quarta-feira, 7 de julho de 2010

ESTRATÉGIA SALVADORA

Aluízio Nicácio Cavalcanti





Feliciano de Medeiros Barbosa, funcionário do Banco do Brasil, em João Pessoa, marcou época com suas tiradas impagáveis, onde a irreverência e a sátira inteligente estavam, invariavelmente, presentes. Mesmo atingidos por suas espiritualíssimas brincadeiras, os colegas sempre o estimaram, rememorando, vez por outra, essas jocosas situações por ele criadas.

Do seu tempo no Banco, são: David Trindade, Adroaldo Gomes da Silva, Ayrton Lins Falcão, Antônio João Maribondo Vinagre, Arlindo Agra, Arnóbio de Alencar Assumpção, Carlos Coelho de Alverga Neto, Edísio Souto, Francisco Olívio de Souza Filho, Geraldo Teixeira de Carvalho, Ivanilton Martins Dinoá, Joás de Brito Pereira (seu cunhado), José do Patrocínio de Oliverira Lima, José Rodrigues de Lemos, Juarez da Silva Guedes, Luiz Hugo Guimarães, Ramon Dantas Maciel, Robson Maul de Andrade, entre muitos outros, inclusive o "locutor que vos fala".

Certa vez, quando presidente da AABB local, viajou Feliciano ao Rio de Janeiro, a trato de interesse do clube. Lá, foi hóspede de Luiz Carlos Florentino, seu colega de banco e amigo fraterno, que à época fazia um curso de pós-graduação na Cidade Maravilhosa.

Luiz Carlos prontificou-se a apresentar o nosso Feliciano ao diretor do Banco do Brasil, seu amigo, a cuja diretoria estava afeto o assunto da AABB que o levara ao Rio.

Agendada a visita ao diretor, saíram ao seu encontro e, coincidentemente, depararam-se com o homem logo no elevador do prédio onde estavam. Feita a apresentação, Feliciano apressou-se em explicar, ali mesmo, o motivo da sua viagem, que era o pleito para obter uma verba a ser aplicada na reforma da AABB em João Pessoa. O Diretor, sem mais delongas, decidiu na hora, para surpresa geral: "Pode voltar, se quiser, que a verba está concedida".

Resolvido, inesperadamente, o problema, Feliciano convidou Luiz Carlos para comemorar o feito e decidiram ficar por perto, ali mesmo em Copacabana, num bar próximo ao prédio onde estavam. A comemoração iniciou-se pelas 11 horas da manhã e, com a chegada de outros amigos e conterrâneos, foi-se estendendo até que, por volta das três da tarde, Luis Carlos, prudentemente, convidou Feliciano para encerrar a farra e voltar para o apartamento, lembrando-lhe que as esposas estariam ansiosas esperando-os e que já passara, e muito, da hora do almoço.

Feliciano então retrucou: "Olha, Cal, (como ele chamava Luiz Carlos), já que passamos da hora do almoço, não devemos ir agora, porque elas estarão furiosas, nos esperando; você conhece a Bispa (tratamento carinhoso que ele dedicava a sua esposa). Vá por mim. Vamos demorar mais um pouco e, lá para as seis da tarde chegaremos. Aí você vai ver que, ao invés de furiosas, elas estarão preocupadíssimas e a nossa chegada servirá de motivo para alegria e não para a bronca que agora nos espera".

Assim foi feito e a estratégia funcionou magnificamente. Chegaram por volta da meia noite e encontraram as famílias reunidas com mais alguns vizinhos do apartamento, todos de mãos dadas, irmanados em fervorosa oração. À entrada triunfal dos "desaparecidos" a alegria foi geral e, entre abraços, risos e lágrimas, foi organizada mais uma rodada de orações, como agradecimento pela graça alcançada; agora com a participação dos trânsfugas. O bafo de cerveja substituía, com vantagem, o incenso.




Aluízio Nicácio Cavalcanti - 0.584.480-0
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