sábado, 10 de julho de 2010

PERDI A COMISSÃO NO POKER

Lá no início da década de 90 minha agência estava abrindo vários Cavans, aqueles caixas avançados e o negócio gerava quilômetro rodado, meia diária e uma comissão de caixa executivo.
Eu estava concorrendo com outro colega para assumir a vaga de caixa num desses postos e ainda com o direito de viajar no meu próprio carro.
Todas as segundas e quintas-feiras o “clube do bolinha” da agência se reunia na AABB e a “picanha” corria solta na base do racha entre amigos.
Depois do churrasco alguns ficavam na mesa de sinuca e outros formavam uma roda de poker e a coisa se estendia até altas horas. O jogo era barato, mais para diversão, mas as vezes o negócio esquentava.
Numa noite dessas, poucos dias antes da escolha do “caixa executivo” do Cavan, recebemos a visita do Gerente Adjunto e ele optou pelo divertimento do “carteado” após o jantar.
Ocorre que o homem, gente finíssima, realmente um amigão dos funcionários, era meio chegado num “destilado”, mais precisamente um Natu Nóbilis e entre uma parada e outra mandava o litro com uma voracidade incrível, enquanto perdia incontrolavelmente no jogo.
Lá pelas 2h da madrugada restavam na mesa 5 jogadores, entre eles nosso adjunto, eu e o colega que concorria comigo à comissão do Cavan.
Dadas as cartas, meu jogo não servia e saí fora, assim como os demais, restando “meu concorrente” e nosso adjunto, mais vermelho do que um peru de tanto “Natu”.
O “meu concorrente” fez uma aposta baixa, mas nosso adjunto achou pouco e disse: “Vem cá guri, vamos aumentar esse negócio porque isto aqui é jogo de homem”, e puxou o talão de cheques dizendo “Diz até onde tu vai, que não sou de correr da briga”. Claro, “meu concorrente” ficou meio assustado, afinal era o chefe, mas de brincadeira disse: “Eu vou até o “SEU” VP”, e não é que o homem aceitou? Virou as cartas para mim e eu vi aquele jogo espetacular: Um “street flash” de espadas, completinho, do dez ao Ás.
Eu suei frio e fiquei louco para fazer um sinal para o meu amigo para que não topasse a parada, afinal o nosso adjunto já era E-12 e a paulada seria feia. Mas claro, se o “chefe” notasse eu estaria frito.
Cheques feitos e sobre a mesa, nosso adjunto encheu o peito e lascou: “Isto é para vocês aprenderem como se joga poker” e abriu as cartas sobre a mesa, enquanto já ia passando a mão nas fichas e nos cheques.
Aí o meu amigo, que aparentava uma tranqüilidade incomum para quem apostara um VP E-12 disse: “É POUCO”, a abriu um Royal Street Flash, lindo, lindo. Eu nunca tinha visto, tudo de ouros, do 10 ao Ás.
Marcos, nosso adjunto quase teve um infarto. Levantou e perdeu a compostura. “Seu guri isto, seu guri aquilo e mais um monte de impropérios”.
Embarcou no carro e lá se foi “cantando pneu”.
No outro dia o clima na agência ficou meio estranho. O homem, tão falante a brincalhão com o pessoal estava mudo e assim ficou por uns dias.
Numa manhã ele chamou “meu concorrente” e disse: “pega tuas coisas, teu carro e vai para o Cavan, a vaga é tua. Ah, e me desculpe aquelas bobagens daquela noite”.
Pronto, perdi uma comissão por conta de um carteado.
Pode?

Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)
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