segunda-feira, 12 de julho de 2010

BANG - BANG

Não me lembro exatamente o ano, pois guardar datas e nomes nunca foram o meu forte. Mas, seguramente, o fato ocorreu no princípio da década de 1960, porque havia pouco tempo que chegara a Morrinhos(GO), vindo de Belo Horizonte.

Cheguei exatamente no dia 30 de Setembro de 1959, quando (esta data eu não me esqueço), em 1º de outubro, tomei posse como funcionário do Banco do Brasil.

Àquele tempo o Banco funcionava no prédio que pertencia ao saudoso Sr. Felício Chaves, localizado na esquina da Rua Rio Grande do Sul com a Av. Senador Hermenegildo de Morais. Era um prédio acanhado para comportar a agência do Banco, àquela altura já com 3 ou 4 anos de funcionamento e que contava já com uns 40 funcionários, sendo que a grande maioria provinha de vários estados do país, principalmente de São Paulo e de Minas Gerais.

À época, para os habitantes das grandes metrópoles brasileiras, o Estado de Goiás era tido como terra de índios e jagunços, onde imperava a lei dos valentes e do “38”. Trabalhar aqui, principalmente no interior, era como que participar de aventuras “Hollyoodianas”, com índios, bandidos e mocinhos. Entretanto, o “diabo” não era assim tão feio quanto se pintava; a realidade era bem outra.

Chegando em Morrinhos percebi que seu povo era formado por pessoas de bem, gente hospitaleira, honesta, trabalhadora, educada, ordeira e respeitadora da lei. Havia, é lógico, de vez em quando, um crime ou outro, como ainda os há, aqui, ali, em qualquer lugar. Lá fora, muito mais do que aqui. Não era como diziam os amigos e conhecidos, de Belo Horizonte, com as barbaridades e atrocidades que apregoavam:

- Você vai para Goiás? Fique sabendo que lá, quando você escapa dos índios, não escapa dos bandidos! Se não gostam de sua cara, te dão um tiro e apostam para ver de que lado você vai cair!

Um absurdo! Nunca vi qualquer índio ou bandido. Era tudo folclore do tempo em que ainda se procurava ouro e pedras preciosas.

Mas (existe sempre um porém), não é que, um belo dia, bem dentro de nossa agência, acontece uma destas tragédias que, não fora trágica, seria cômica.

Tínhamos, como sempre, grande movimento de clientes, principalmente de agropecuaristas a procura de financiamentos, já que aquela era a agência mais perto de uma grande região e Morrinhos uma das principais cidades da região sul do estado. Àquele dia, porém, no meio da semana, felizmente o banco estava com pouca movimentação.

Repentinamente, pelo meio do expediente, adentrou pela porta principal um homem empunhando um revólver, olhando para todos os lados, procurando alguém. Ao avistar o infeliz, que estava perto dos caixas, descarregou nele sua arma, prostrando-o ao chão.

Foi aquele alvoroço! No tumulto que se formou só se via gente correndo para todo lado. Os funcionários se escondiam debaixo das mesas e dos balcões. Alguém notou que uma bala perdida havia atingido o vidro de um dos caixas (eram dois). E cadê os caixas? Sumiram os dois!

Um deles, o Guilherme, um paulista descendente de alemães, um homenzarrão alto, forte, corado, desses que, pela alvura de sua pele chegava a ser vermelho (uma garotinha dissera que ele era “cor de rosa”), foi encontrado bem encolhidinho em baixo do balcão do caixa, branco como cera. O outro, o Figueredo, sumira de dentro da gaiola (que era o caixa antigamente) não se sabe como. O colega Evaldo, dizem as más línguas, mal conseguindo balbuciar algumas palavras, entrou engatinhando na sala do Gerente, quase se agarrando às suas pernas.

Os poucos clientes que se encontravam na agência se esparramaram, procurando sair dali de qualquer jeito. Eu, por minha vez, “bobo da cidade grande”, como estava um pouco distante dos acontecimentos, ao contrário dos outros, procurei chegar mais perto para ver o que tinha acontecido.

A cena foi tão imprevista e repentina, armou-se tanta confusão que, quando todos se deram conta do acontecido, a infeliz vítima esvaía-se em sangue no chão, talvez já morto, sem que ninguém ousasse se aproximar para prestar-lhe o devido socorro.

Enquanto isto, o criminoso, tranqüilamente, saiu do banco, montou em seu cavalo que estava à porta e foi-se embora. Nunca fiquei sabendo se fora preso ou não!



Hilton de Aquino - 4.208.280-3 - Caldas Novas(GO) - e-mail: hiltaquino@hotmail.com