quinta-feira, 30 de junho de 2011

CADÊ O NOSSO BANCO DO BRASIL DE ANTIGAMENTE?

Francisco de Assis Barros

Parabéns ao Banco do Brasil S.A., uma séria instituição financeira que tem mais de 200 anos de relevantes serviços prestados à Nação Brasileira. O Banco do Brasil, essa longeva e importante empresa que se orgulha da celeridade e abrangência dos seus serviços através da automação, da eficiência de suas informações usando uma veloz informática, e do bonito e moderno visual do leiaute das suas dependências, infelizmente, com o passar dos anos, tornou-se um banco frio e impessoal. Fui seu funcionário durante mais de 30 anos, o que para mim foi tão prazeroso que aquele tempo transcorreu num átimo. Ter sido servidor do BB ainda me enche de orgulho, entretanto, eu preferiria pensar nele como era dantes: um banco pessoal, alegre e útil.
Vocês ainda se lembram de como era o Banco do Brasil de outrora? Era uma instituição que funcionava em prédios feios (alguns deles sem conforto para clientes e funcionários), com equipamentos mecânicos – máquinas de escrever Olivetti e de somar Burroughs, além das eficazes calculadoras Facit – utilizando móveis sem estética, pesados e sempre de cor preta, mas que o fazíamos ser humanitário, pessoal, alegre e útil.
Este assunto eu já tratei quando escrevi os livros “NOSSO BANCO ALEGRE E ÚTIL – Histórias Divertidas de Uma Instituição Financeira” (que mereceu um elogio expresso de Aldemir Bendine, Dida, atual Presidente do Banco) e “CINQUENTA CONTO$ – Do Nosso Banco Alegre e Útil”, ocasião em que, através de histórias engraçadas, eu demonstrei o Banco do Brasil de antigamente.
Por que agora eu voltei a esse assunto? Eu explico.
Recentemente, eu mudei de endereço. Todos conhecem os transtornos causados por uma mudança de residência. Assim, a exemplo do que procedi com outras instituições que me prestam serviços, com o objetivo de comunicar o meu novo endereço procurei a agência do BB onde mantenho, além de conta-corrente, conta de Poupança Ouro, dois seguros de vida (Ouro Vida) e seguro de automóvel (BB Seguro Auto) e onde eu não devo um centavo sequer. Então, pasmem meus amigos! Ali fui devido e educadamente informado de que teria que comprovar, documentalmente, que eu me mudei.
Vocês entenderam? O Banco do Brasil S.A., onde mantenho uma conta de depósitos há quase 50 anos (no meu talonário está grafado: “cliente bancário desde 07/1961”), só anotaria meu novo endereço se a COSERN (Companhia Energética do Rio Grande do Norte), OI (Telemar Norte Leste S.A.) ou TIM (Tim Celular S.A.) endossasse a minha declaração verbal.
– E a minha condição de aposentado da empresa, depois de longos 30 anos aqui servidos? – aleguei a quem me atendia.
– Não serve! – foi a resposta, educada, mas categórica.
– E o documento do meu veículo que já está com o novo endereço? – insisti na vã alegação.
– Também não serve! – recebi nova negativa, gentil, mas incisiva.
– Para o Banco do Brasil, o DETRAN não é um avalista confiável! – matutei com meus botões.
Eu ainda tentei dialogar dizendo que nada devia ao Banco, mas também foi debalde, pois recebi educadamente como resposta: “são instruções do Banco que têm que ser cumpridas”. Como um banco que me oferta cheque especial, CDC, financiamento de autos e outros créditos elencados em meu extrato de conta, muitos deles sem garantia real, que caso eu os aceitasse, montaria a mais de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), não acredita na minha simples afirmação verbal de mudança de endereço? Como um banco que está com o meu dinheiro, se tornando assim meu devedor, não acredita na minha palavra, palavra do seu credor? Isso é ou não uma incoerência?
Para nós, seus antigos e leais ex-funcionários, tudo isso é uma inversão de valores, ou seja, o credor tem que documentalmente provar ao devedor que mudou de endereço. Caberia aqui o “ônus da prova”?
Podem me chamar de velho nostálgico, mas eu prefiro continuar pensando no nosso Banco do Brasil de antigamente, pesadão e sem conforto, mas humanitário, pessoal, alegre e útil.
Onde ele estará?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Anjo da Guarda

Por: Marcos Cordeiro de Andrade

Ainda na ativa, morando em Copacabana, certa noite atendi ao telefone a esposa de um colega que, aos prantos, comunicou que o marido acabara de falecer e me pediu que fosse até sua casa, pois não sabia o que fazer. Lá encontrei a esposa, já agora viúva, e a filha única do casal, adolescente, ambas desorientadas e ainda na prostração que era de se esperar nesses casos.

Tomei as primeiras providências pelo telefone e estava a vestir o corpo quando chegou um parente, também do Banco, fazendo perguntas à viúva. Entre outras indagando da pasta de documentos onde eram guardadas as apólices de seguros “para cuidar de tudo já na manhã seguinte”. Naquele instante pensei entender porque ela não tinha chamado parentes, primeiramente.

Em outra ocasião, ainda em Copacabana, e numa madrugada chuvosa, atendi à campainha do apartamento (num 10º. Andar) e ao abrir a porta me deparei com um senhor, sem camisa e encharcado da chuva que caía lá fora. Identificou-se como taxista que havia transportado para casa um rapaz vítima de acidente automobilístico, e me entregou um papel que trazia consigo. Nesse pequeno oitavado constava meu nome e endereço.

O taxista informou que, passando pela Lagoa Rodrigues de Freitas socorreu o condutor de um Chevette que tinha abraçado um poste em séria batida, e o transportou a pedido. Como o rapaz estava sem camisa ele o envolveu na sua e o acidentado se negou a ser encaminhado a um hospital, pedindo para que o levasse para casa. Isto feito exigiu ao taxista dirigir-se até “a casa de um amigo” e lhe entregou aquele endereço para buscar ajuda e receber o dinheiro da corrida.

A vítima do acidente era um colega nosso, solteiro, e que morava sozinho. Providenciei sua remoção para o hospital onde, ao dar entrada, entrou em coma e depois de longo período hospitalizado conseguiu se restabelecer, já na companhia dos pais que vieram do interior de Minas.

Com essas duas pessoas, Didi e Renato, eu não mantinha nenhum vínculo de amizade profunda ou parentesco, apenas trabalhávamos juntos, no Banco do Brasil. Descobri depois que eu tinha sido escalado para ser seu anjo da guarda em caso de necessitarem de ajuda.

Bem sei que não fui escolhido por ser o melhor entre todos do seu relacionamento, apenas me consideravam uma pessoa confiável a quem entregariam suas vidas – ou suas mortes, como se faz ao Anjo da Guarda. E eu desempenhei esse papel sem o saber.

Ontem conheci outro anjo da guarda: Lena, nomeada por dona Marta, a pensionista falecida.

E você, já nomeou seu anjo da guarda?

Todos nós deveríamos fazê-lo. E comunicar aos nossos familiares mais próximos.

Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR) – 03/02/2011.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os muitos Bancos do Brasil, de antigamente e de hoje.

“Sou uma Sombra! Venho de outras eras/Do cosmopolitismo das moneras.../Pólipo de recônditas reentrâncias/Larva de caos telúrico, procedo/Da escuridão do cósmico segredo/Da substância de todas as substâncias!” Poeta Augusto dos Anjos.

OS MUITOS BANCOS DO BRASIL, DE ANTIGAMENTE E DE HOJE.

Holbein Menezes

O Contador da Agência chamava-me, e segredava: “-Você vai a Camucim levar numerário.” Enchia-me de felicidade não só pela distinção como também por mais um dinheirinho no bolso. (Nesse tempo, em 1945, os funcionários recebiam seu magro salário em espécie, dentro de envelope comum e aberto, das mãos do Chefe de Caixa. Poucos de nós tinham conta em “Depósitos populares”, que rendia (RENDIA!) 3%a.a. Mas o Gerente, o Contador, o Duarte e o Assumpção, os mais antigos funcionários da Agência, esses mantinham conta em “Depósito sem Limites”, que pagavam juros de 5%a.a.
Sim, nessas remotas “eras das moneras”, no dizer do poeta, o BB pagava juros pelo saldo credor dos depósitos, e não cobrava pelos cheques nem taxas por serviço de espécie alguma. E dava lucro! A agência de Sobral dava lucro, descontadas todas as despesas inclusive de juros à Direção Geral pela reserva de numerário que mantinha nos seu grande cofre verde!
A “viagem de numerário”, como chamávamos o reforço de caixa às coirmãs sob nossa jurisdição – Crateus e Camucim – era feita de forma precária, e perigosa: dois funcionários munidos cada um de um revolver 38 e seis balas ao mais das vezes vencidas, tomavam o trem na Estação do Patrocínio às 5 hs da matina, punham as malas de dinheiro (de couro curtido ao natural) no bagageiro comum (gradil) do vagão – punha-as, as “nossas” malas, entre as muitas malas dos passageiros –, e nos sentávamos os dois bancários no duro banco de madeira logo abaixo de onde estavam as malas de couro cheias de dinheiro.
[Nos meus trinta anos de Banco nunca soube de um único assalto sequer, nem roubo do numerário transportado dessa maneira primitiva. Nem mesmo quando me transferira para a agência de Fortaleza (em 1946), e fiz muitas dessas viagens de numerário para reforçar os caixas das agências de Mossoró e Teresina e Crato. Para Mossoró e Teresina, o transporte era feito em automóvel de praça, alugado; que saia de Fortaleza às 18 hs, após o expediente. Viajávamos a noite inteira para chegar altas horas da madrugada nas cidades de destino. Para Crato, utilizávamos o trem: às 5 hs da matina o trem saia de Fortaleza e às 18 hs chegava em Iguatu; aí dormíamos não sem antes guardar as malas com o dinheiro no cofre da agência de Iguatu; às 4,30 hs da matina do dia seguinte – pelo mesmo “carregador” de malas adrede contratado – pegávamos as duas malas depositadas no cofre da agência de Iguatu e prosseguíamos viagem até Crato, cidade ao Sul do Ceará, aonde chegávamos às 17 hs. Já no dia seguinte, pelo trem das 5 horas voltávamos para Fortaleza ou com as malas vazias – e aí não ganhávamos o adicional extra pelo tempo de condução de dinheiro sob nossa responsabilidade; por isso, torcíamos para que houvesse recolhimento à agência de Fortaleza do dinheiro chamado “dilacerado”, que eram as cédulas que iriam sair de circulação mas que, contabilmente, e até o recolhimento ao Tesouro Nacional, era dinheiro igual a qualquer outro, e por isso fazíamos jus ao adicional extra. Verdadeiras epopeias! Então... vivíamos em “outras eras!” e o Banco também era outro.]
Após minha chegada ao Rio de Janeiro, em 1956, na tentativa de salvar o filho de 10 anos vítima de leucemia (mas não logrei... Merde!), logo na chegada encontrei um Banco diferente: um Banco de solidariedade!
Fui servir por influência do secretário do Presidente Sebastião Paes de Almeida (por esse tempo, Presidente do Banco não era qualquer pelego sindical formado nas cloacas sindicais), o Colega Hélio Barroso de quem eu jamais ouvira sequer falar o nome (mas ele conhecia o meu e meu drama!), fui servir em um gabinete de Departamento da Direção Geral. O então Chefe desse Departamento – antes, enquanto Inspetor de Serviço da Direção Geral era conhecido no Banco como “carrasco” de gerentes, já tendo nos costados, por denúncias suas, três suicídios de administradores de agência; portanto um “caçador de bruxas”; como eram, aliás, quase todos os Inspetores de Serviço de então – o “malvado” Chefe desse Departamento chamou-me a sua sala e disse-me, com voz macia e calma: “ – Fui informado de seu desesperado drama, para fazer jus às regalias que o Banco concede aos funcionários transferidos no interesse do serviço, nomeei-o “Auxiliar de meu Gabinete”. Mas sua tarefa aqui no Gabinete é cuidar do seu filho; o Colega pode vir ou não vir trabalhar, pode vir e sair a qualquer hora e pelo tempo que se fizer necessário. Como disse, sua tarefa é cuidar de seu filho!”
O Secretário do Diretor da IV Zona (Nordeste e Norte do País), que eu jamais conhecera anteriormente, mas muito cedo torna-se, graças a sua ilimitada generosidade, meu mui estimado e nunca esquecido amigo Mario Lima (ainda vivo em Niterói, talvez com quase cem anos de idade!), Mario Lima junto com Dona Venus – secretária da presidência para assuntos de funcionários – deram a mim e a minha numerosa família (mulher e seis filhos!), proporcionaram-nos regalias extraordinárias tais como, por exemplo, transportar de Fortaleza ao Rio, por conta do Banco, pelo “Constellation” da Panair todos os meus familiares e até a empregada doméstica que nos servia fazia anos; conceder uma verba mensal especial para compra dos caríssimos medicamentos, e até para prover alimentação especial para o infante, enfermo terminal!
Aconteceu, por esse tempo, situação assaz significativa daqueles tempos em que o fator humano era a riqueza maior do Banco: o remédio que o garoto tomava custava quase cem reais em moeda de hoje o vidro com 20 cápsulas de 20 mg; e o garoto tomava dez comprimidos por dia, ou seja, 200 mg, um vidro em cada dois dias! O Banco pagava tudo!
Aconselhado pelo médico General João Maia Mendonça, Diretor do Serviço de Hematologia do Exército, que tratava o garoto, aconselhado pelo Dr. Maia Mendonça levei o caso, mediante circunstanciado relatório elaborado por ele, ao conhecimento de um cientista de São Paulo que estava a desenvolver um tratamento radical contra a leucemia que, se a não curava ainda, estava a produzir maior sobrevida.
Esse cientista, que me não perdôo ter esquecido o seu douto nome, após ler o relatório do Dr. Mendonça sugeriu a ele em resposta e por escrito que aumentasse a dose do caro medicamento, de 200 mg por dia para DEZ gramas. Ora, se já era difícil ministrar ao garoto dez cápsulas de 20 mg por dia, imagine-se quinhentas cápsulas... Ora ainda, se um vidro de 20 cápsulas de 20 mg custava quase 100 reais em moeda de hoje, e o garoto consumia meio vidro por dia(!) imagine-se quanto não custariam 500 vidros para totalizar os 10 gramas sugeridos!
Impossível ministrar! E impossível comprar! Impossível!
Mas naqueles priscas eras o Banco cuidava de seus funcionário e da família de seus funcionários: havia o eficiente Serviço Médico de saudosa memória, lembram-se?
Foi aí que mais uma vez surgiu a benfazeja mão do amigo Mário Lima – que meu santo padim pade ciço vele por sua vida para todo o sempre, Amém! Mario Lima foi ao Diretor da Primeira Zona responsável pelos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, sob cuja jurisdição (Rio) ficava o Laboratório Schering produtora do medicamento, e o Dr. Araes – o velho e sábio Diretor da 1ªZona do Banco – pediu ao Diretor do Laboratório Schering que fabricava o remédio que fabricasse 500 cápsulas do medicamento, mas... de um grama cada cápsula!! (Estoque suficiente para 50 dias!)
Para sanar essa quase impossibilidade foi preciso paralisar a linha normal de fabricação do remédio em cápsulas de 20 mg, e adaptar a maquinaria para fabricar cápsulas de um grama; e, pasmem! numa simples tarde fabricou-se as 500 cápsulas de um grama que necessitávamos!
Esse era o Banco da Direção Geral em 1956: sobretudo humano; sábio o bastante para pôr o patrimônio humano acima de qualquer outro patrimônio; solidário o suficiente para atribuir à solidariedade papel de tarefa fundamental. Como sói ser um Banco do povo e para o povo.
O Banco de hoje, dominado pelos pelegos sindicalistas do PT – oh! desgraça! das desgraças! – é aquele estabelecimento bancário do pior e mais perverso capitalismo sindical – aliás, meu irmão escritor, prêmio Jaboti, um dia escreveu: “O pior patrão é o ex-empregado!” – cuja administração de uma de suas ruidosas agências cá da Praia de Iracema negou-se a abrir para mim – que mantinha e mantenho conta no Banco e só no Banco do Brasil desde junho de 1943 –; isso não obstante, negou-se a Administração da agência da Praia de Iracema a abrir para mim uma conta a fim de eu poder receber meus proventos de aposentado da PREVI! Simplesmente a Gerente de Atendimento comunicou-me, seca e cruelmente: “- Não interessa à agência abrir conta para o Senhor”.
Felizmente a roda da vida gira e, hoje, graças ao vulto de mensagens dirigidas à Ouvidoria do Banco e ao Gerente Geral da agência, mandadas as mensagens por amigos espalhados pelos quatro cantos do País, voltamos a ser Colegas, o Gerente Geral da agência da Praia de Iracema e seus Gerentes de atendimento, em especial a querida Gerente que proferiu aquela terrível sentença.

Holbein Menezes