quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Anjo da Guarda

Por: Marcos Cordeiro de Andrade

Ainda na ativa, morando em Copacabana, certa noite atendi ao telefone a esposa de um colega que, aos prantos, comunicou que o marido acabara de falecer e me pediu que fosse até sua casa, pois não sabia o que fazer. Lá encontrei a esposa, já agora viúva, e a filha única do casal, adolescente, ambas desorientadas e ainda na prostração que era de se esperar nesses casos.

Tomei as primeiras providências pelo telefone e estava a vestir o corpo quando chegou um parente, também do Banco, fazendo perguntas à viúva. Entre outras indagando da pasta de documentos onde eram guardadas as apólices de seguros “para cuidar de tudo já na manhã seguinte”. Naquele instante pensei entender porque ela não tinha chamado parentes, primeiramente.

Em outra ocasião, ainda em Copacabana, e numa madrugada chuvosa, atendi à campainha do apartamento (num 10º. Andar) e ao abrir a porta me deparei com um senhor, sem camisa e encharcado da chuva que caía lá fora. Identificou-se como taxista que havia transportado para casa um rapaz vítima de acidente automobilístico, e me entregou um papel que trazia consigo. Nesse pequeno oitavado constava meu nome e endereço.

O taxista informou que, passando pela Lagoa Rodrigues de Freitas socorreu o condutor de um Chevette que tinha abraçado um poste em séria batida, e o transportou a pedido. Como o rapaz estava sem camisa ele o envolveu na sua e o acidentado se negou a ser encaminhado a um hospital, pedindo para que o levasse para casa. Isto feito exigiu ao taxista dirigir-se até “a casa de um amigo” e lhe entregou aquele endereço para buscar ajuda e receber o dinheiro da corrida.

A vítima do acidente era um colega nosso, solteiro, e que morava sozinho. Providenciei sua remoção para o hospital onde, ao dar entrada, entrou em coma e depois de longo período hospitalizado conseguiu se restabelecer, já na companhia dos pais que vieram do interior de Minas.

Com essas duas pessoas, Didi e Renato, eu não mantinha nenhum vínculo de amizade profunda ou parentesco, apenas trabalhávamos juntos, no Banco do Brasil. Descobri depois que eu tinha sido escalado para ser seu anjo da guarda em caso de necessitarem de ajuda.

Bem sei que não fui escolhido por ser o melhor entre todos do seu relacionamento, apenas me consideravam uma pessoa confiável a quem entregariam suas vidas – ou suas mortes, como se faz ao Anjo da Guarda. E eu desempenhei esse papel sem o saber.

Ontem conheci outro anjo da guarda: Lena, nomeada por dona Marta, a pensionista falecida.

E você, já nomeou seu anjo da guarda?

Todos nós deveríamos fazê-lo. E comunicar aos nossos familiares mais próximos.

Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR) – 03/02/2011.