quinta-feira, 30 de junho de 2011

CADÊ O NOSSO BANCO DO BRASIL DE ANTIGAMENTE?

Francisco de Assis Barros

Parabéns ao Banco do Brasil S.A., uma séria instituição financeira que tem mais de 200 anos de relevantes serviços prestados à Nação Brasileira. O Banco do Brasil, essa longeva e importante empresa que se orgulha da celeridade e abrangência dos seus serviços através da automação, da eficiência de suas informações usando uma veloz informática, e do bonito e moderno visual do leiaute das suas dependências, infelizmente, com o passar dos anos, tornou-se um banco frio e impessoal. Fui seu funcionário durante mais de 30 anos, o que para mim foi tão prazeroso que aquele tempo transcorreu num átimo. Ter sido servidor do BB ainda me enche de orgulho, entretanto, eu preferiria pensar nele como era dantes: um banco pessoal, alegre e útil.
Vocês ainda se lembram de como era o Banco do Brasil de outrora? Era uma instituição que funcionava em prédios feios (alguns deles sem conforto para clientes e funcionários), com equipamentos mecânicos – máquinas de escrever Olivetti e de somar Burroughs, além das eficazes calculadoras Facit – utilizando móveis sem estética, pesados e sempre de cor preta, mas que o fazíamos ser humanitário, pessoal, alegre e útil.
Este assunto eu já tratei quando escrevi os livros “NOSSO BANCO ALEGRE E ÚTIL – Histórias Divertidas de Uma Instituição Financeira” (que mereceu um elogio expresso de Aldemir Bendine, Dida, atual Presidente do Banco) e “CINQUENTA CONTO$ – Do Nosso Banco Alegre e Útil”, ocasião em que, através de histórias engraçadas, eu demonstrei o Banco do Brasil de antigamente.
Por que agora eu voltei a esse assunto? Eu explico.
Recentemente, eu mudei de endereço. Todos conhecem os transtornos causados por uma mudança de residência. Assim, a exemplo do que procedi com outras instituições que me prestam serviços, com o objetivo de comunicar o meu novo endereço procurei a agência do BB onde mantenho, além de conta-corrente, conta de Poupança Ouro, dois seguros de vida (Ouro Vida) e seguro de automóvel (BB Seguro Auto) e onde eu não devo um centavo sequer. Então, pasmem meus amigos! Ali fui devido e educadamente informado de que teria que comprovar, documentalmente, que eu me mudei.
Vocês entenderam? O Banco do Brasil S.A., onde mantenho uma conta de depósitos há quase 50 anos (no meu talonário está grafado: “cliente bancário desde 07/1961”), só anotaria meu novo endereço se a COSERN (Companhia Energética do Rio Grande do Norte), OI (Telemar Norte Leste S.A.) ou TIM (Tim Celular S.A.) endossasse a minha declaração verbal.
– E a minha condição de aposentado da empresa, depois de longos 30 anos aqui servidos? – aleguei a quem me atendia.
– Não serve! – foi a resposta, educada, mas categórica.
– E o documento do meu veículo que já está com o novo endereço? – insisti na vã alegação.
– Também não serve! – recebi nova negativa, gentil, mas incisiva.
– Para o Banco do Brasil, o DETRAN não é um avalista confiável! – matutei com meus botões.
Eu ainda tentei dialogar dizendo que nada devia ao Banco, mas também foi debalde, pois recebi educadamente como resposta: “são instruções do Banco que têm que ser cumpridas”. Como um banco que me oferta cheque especial, CDC, financiamento de autos e outros créditos elencados em meu extrato de conta, muitos deles sem garantia real, que caso eu os aceitasse, montaria a mais de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), não acredita na minha simples afirmação verbal de mudança de endereço? Como um banco que está com o meu dinheiro, se tornando assim meu devedor, não acredita na minha palavra, palavra do seu credor? Isso é ou não uma incoerência?
Para nós, seus antigos e leais ex-funcionários, tudo isso é uma inversão de valores, ou seja, o credor tem que documentalmente provar ao devedor que mudou de endereço. Caberia aqui o “ônus da prova”?
Podem me chamar de velho nostálgico, mas eu prefiro continuar pensando no nosso Banco do Brasil de antigamente, pesadão e sem conforto, mas humanitário, pessoal, alegre e útil.
Onde ele estará?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Anjo da Guarda

Por: Marcos Cordeiro de Andrade

Ainda na ativa, morando em Copacabana, certa noite atendi ao telefone a esposa de um colega que, aos prantos, comunicou que o marido acabara de falecer e me pediu que fosse até sua casa, pois não sabia o que fazer. Lá encontrei a esposa, já agora viúva, e a filha única do casal, adolescente, ambas desorientadas e ainda na prostração que era de se esperar nesses casos.

Tomei as primeiras providências pelo telefone e estava a vestir o corpo quando chegou um parente, também do Banco, fazendo perguntas à viúva. Entre outras indagando da pasta de documentos onde eram guardadas as apólices de seguros “para cuidar de tudo já na manhã seguinte”. Naquele instante pensei entender porque ela não tinha chamado parentes, primeiramente.

Em outra ocasião, ainda em Copacabana, e numa madrugada chuvosa, atendi à campainha do apartamento (num 10º. Andar) e ao abrir a porta me deparei com um senhor, sem camisa e encharcado da chuva que caía lá fora. Identificou-se como taxista que havia transportado para casa um rapaz vítima de acidente automobilístico, e me entregou um papel que trazia consigo. Nesse pequeno oitavado constava meu nome e endereço.

O taxista informou que, passando pela Lagoa Rodrigues de Freitas socorreu o condutor de um Chevette que tinha abraçado um poste em séria batida, e o transportou a pedido. Como o rapaz estava sem camisa ele o envolveu na sua e o acidentado se negou a ser encaminhado a um hospital, pedindo para que o levasse para casa. Isto feito exigiu ao taxista dirigir-se até “a casa de um amigo” e lhe entregou aquele endereço para buscar ajuda e receber o dinheiro da corrida.

A vítima do acidente era um colega nosso, solteiro, e que morava sozinho. Providenciei sua remoção para o hospital onde, ao dar entrada, entrou em coma e depois de longo período hospitalizado conseguiu se restabelecer, já na companhia dos pais que vieram do interior de Minas.

Com essas duas pessoas, Didi e Renato, eu não mantinha nenhum vínculo de amizade profunda ou parentesco, apenas trabalhávamos juntos, no Banco do Brasil. Descobri depois que eu tinha sido escalado para ser seu anjo da guarda em caso de necessitarem de ajuda.

Bem sei que não fui escolhido por ser o melhor entre todos do seu relacionamento, apenas me consideravam uma pessoa confiável a quem entregariam suas vidas – ou suas mortes, como se faz ao Anjo da Guarda. E eu desempenhei esse papel sem o saber.

Ontem conheci outro anjo da guarda: Lena, nomeada por dona Marta, a pensionista falecida.

E você, já nomeou seu anjo da guarda?

Todos nós deveríamos fazê-lo. E comunicar aos nossos familiares mais próximos.

Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR) – 03/02/2011.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os muitos Bancos do Brasil, de antigamente e de hoje.

“Sou uma Sombra! Venho de outras eras/Do cosmopolitismo das moneras.../Pólipo de recônditas reentrâncias/Larva de caos telúrico, procedo/Da escuridão do cósmico segredo/Da substância de todas as substâncias!” Poeta Augusto dos Anjos.

OS MUITOS BANCOS DO BRASIL, DE ANTIGAMENTE E DE HOJE.

Holbein Menezes

O Contador da Agência chamava-me, e segredava: “-Você vai a Camucim levar numerário.” Enchia-me de felicidade não só pela distinção como também por mais um dinheirinho no bolso. (Nesse tempo, em 1945, os funcionários recebiam seu magro salário em espécie, dentro de envelope comum e aberto, das mãos do Chefe de Caixa. Poucos de nós tinham conta em “Depósitos populares”, que rendia (RENDIA!) 3%a.a. Mas o Gerente, o Contador, o Duarte e o Assumpção, os mais antigos funcionários da Agência, esses mantinham conta em “Depósito sem Limites”, que pagavam juros de 5%a.a.
Sim, nessas remotas “eras das moneras”, no dizer do poeta, o BB pagava juros pelo saldo credor dos depósitos, e não cobrava pelos cheques nem taxas por serviço de espécie alguma. E dava lucro! A agência de Sobral dava lucro, descontadas todas as despesas inclusive de juros à Direção Geral pela reserva de numerário que mantinha nos seu grande cofre verde!
A “viagem de numerário”, como chamávamos o reforço de caixa às coirmãs sob nossa jurisdição – Crateus e Camucim – era feita de forma precária, e perigosa: dois funcionários munidos cada um de um revolver 38 e seis balas ao mais das vezes vencidas, tomavam o trem na Estação do Patrocínio às 5 hs da matina, punham as malas de dinheiro (de couro curtido ao natural) no bagageiro comum (gradil) do vagão – punha-as, as “nossas” malas, entre as muitas malas dos passageiros –, e nos sentávamos os dois bancários no duro banco de madeira logo abaixo de onde estavam as malas de couro cheias de dinheiro.
[Nos meus trinta anos de Banco nunca soube de um único assalto sequer, nem roubo do numerário transportado dessa maneira primitiva. Nem mesmo quando me transferira para a agência de Fortaleza (em 1946), e fiz muitas dessas viagens de numerário para reforçar os caixas das agências de Mossoró e Teresina e Crato. Para Mossoró e Teresina, o transporte era feito em automóvel de praça, alugado; que saia de Fortaleza às 18 hs, após o expediente. Viajávamos a noite inteira para chegar altas horas da madrugada nas cidades de destino. Para Crato, utilizávamos o trem: às 5 hs da matina o trem saia de Fortaleza e às 18 hs chegava em Iguatu; aí dormíamos não sem antes guardar as malas com o dinheiro no cofre da agência de Iguatu; às 4,30 hs da matina do dia seguinte – pelo mesmo “carregador” de malas adrede contratado – pegávamos as duas malas depositadas no cofre da agência de Iguatu e prosseguíamos viagem até Crato, cidade ao Sul do Ceará, aonde chegávamos às 17 hs. Já no dia seguinte, pelo trem das 5 horas voltávamos para Fortaleza ou com as malas vazias – e aí não ganhávamos o adicional extra pelo tempo de condução de dinheiro sob nossa responsabilidade; por isso, torcíamos para que houvesse recolhimento à agência de Fortaleza do dinheiro chamado “dilacerado”, que eram as cédulas que iriam sair de circulação mas que, contabilmente, e até o recolhimento ao Tesouro Nacional, era dinheiro igual a qualquer outro, e por isso fazíamos jus ao adicional extra. Verdadeiras epopeias! Então... vivíamos em “outras eras!” e o Banco também era outro.]
Após minha chegada ao Rio de Janeiro, em 1956, na tentativa de salvar o filho de 10 anos vítima de leucemia (mas não logrei... Merde!), logo na chegada encontrei um Banco diferente: um Banco de solidariedade!
Fui servir por influência do secretário do Presidente Sebastião Paes de Almeida (por esse tempo, Presidente do Banco não era qualquer pelego sindical formado nas cloacas sindicais), o Colega Hélio Barroso de quem eu jamais ouvira sequer falar o nome (mas ele conhecia o meu e meu drama!), fui servir em um gabinete de Departamento da Direção Geral. O então Chefe desse Departamento – antes, enquanto Inspetor de Serviço da Direção Geral era conhecido no Banco como “carrasco” de gerentes, já tendo nos costados, por denúncias suas, três suicídios de administradores de agência; portanto um “caçador de bruxas”; como eram, aliás, quase todos os Inspetores de Serviço de então – o “malvado” Chefe desse Departamento chamou-me a sua sala e disse-me, com voz macia e calma: “ – Fui informado de seu desesperado drama, para fazer jus às regalias que o Banco concede aos funcionários transferidos no interesse do serviço, nomeei-o “Auxiliar de meu Gabinete”. Mas sua tarefa aqui no Gabinete é cuidar do seu filho; o Colega pode vir ou não vir trabalhar, pode vir e sair a qualquer hora e pelo tempo que se fizer necessário. Como disse, sua tarefa é cuidar de seu filho!”
O Secretário do Diretor da IV Zona (Nordeste e Norte do País), que eu jamais conhecera anteriormente, mas muito cedo torna-se, graças a sua ilimitada generosidade, meu mui estimado e nunca esquecido amigo Mario Lima (ainda vivo em Niterói, talvez com quase cem anos de idade!), Mario Lima junto com Dona Venus – secretária da presidência para assuntos de funcionários – deram a mim e a minha numerosa família (mulher e seis filhos!), proporcionaram-nos regalias extraordinárias tais como, por exemplo, transportar de Fortaleza ao Rio, por conta do Banco, pelo “Constellation” da Panair todos os meus familiares e até a empregada doméstica que nos servia fazia anos; conceder uma verba mensal especial para compra dos caríssimos medicamentos, e até para prover alimentação especial para o infante, enfermo terminal!
Aconteceu, por esse tempo, situação assaz significativa daqueles tempos em que o fator humano era a riqueza maior do Banco: o remédio que o garoto tomava custava quase cem reais em moeda de hoje o vidro com 20 cápsulas de 20 mg; e o garoto tomava dez comprimidos por dia, ou seja, 200 mg, um vidro em cada dois dias! O Banco pagava tudo!
Aconselhado pelo médico General João Maia Mendonça, Diretor do Serviço de Hematologia do Exército, que tratava o garoto, aconselhado pelo Dr. Maia Mendonça levei o caso, mediante circunstanciado relatório elaborado por ele, ao conhecimento de um cientista de São Paulo que estava a desenvolver um tratamento radical contra a leucemia que, se a não curava ainda, estava a produzir maior sobrevida.
Esse cientista, que me não perdôo ter esquecido o seu douto nome, após ler o relatório do Dr. Mendonça sugeriu a ele em resposta e por escrito que aumentasse a dose do caro medicamento, de 200 mg por dia para DEZ gramas. Ora, se já era difícil ministrar ao garoto dez cápsulas de 20 mg por dia, imagine-se quinhentas cápsulas... Ora ainda, se um vidro de 20 cápsulas de 20 mg custava quase 100 reais em moeda de hoje, e o garoto consumia meio vidro por dia(!) imagine-se quanto não custariam 500 vidros para totalizar os 10 gramas sugeridos!
Impossível ministrar! E impossível comprar! Impossível!
Mas naqueles priscas eras o Banco cuidava de seus funcionário e da família de seus funcionários: havia o eficiente Serviço Médico de saudosa memória, lembram-se?
Foi aí que mais uma vez surgiu a benfazeja mão do amigo Mário Lima – que meu santo padim pade ciço vele por sua vida para todo o sempre, Amém! Mario Lima foi ao Diretor da Primeira Zona responsável pelos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, sob cuja jurisdição (Rio) ficava o Laboratório Schering produtora do medicamento, e o Dr. Araes – o velho e sábio Diretor da 1ªZona do Banco – pediu ao Diretor do Laboratório Schering que fabricava o remédio que fabricasse 500 cápsulas do medicamento, mas... de um grama cada cápsula!! (Estoque suficiente para 50 dias!)
Para sanar essa quase impossibilidade foi preciso paralisar a linha normal de fabricação do remédio em cápsulas de 20 mg, e adaptar a maquinaria para fabricar cápsulas de um grama; e, pasmem! numa simples tarde fabricou-se as 500 cápsulas de um grama que necessitávamos!
Esse era o Banco da Direção Geral em 1956: sobretudo humano; sábio o bastante para pôr o patrimônio humano acima de qualquer outro patrimônio; solidário o suficiente para atribuir à solidariedade papel de tarefa fundamental. Como sói ser um Banco do povo e para o povo.
O Banco de hoje, dominado pelos pelegos sindicalistas do PT – oh! desgraça! das desgraças! – é aquele estabelecimento bancário do pior e mais perverso capitalismo sindical – aliás, meu irmão escritor, prêmio Jaboti, um dia escreveu: “O pior patrão é o ex-empregado!” – cuja administração de uma de suas ruidosas agências cá da Praia de Iracema negou-se a abrir para mim – que mantinha e mantenho conta no Banco e só no Banco do Brasil desde junho de 1943 –; isso não obstante, negou-se a Administração da agência da Praia de Iracema a abrir para mim uma conta a fim de eu poder receber meus proventos de aposentado da PREVI! Simplesmente a Gerente de Atendimento comunicou-me, seca e cruelmente: “- Não interessa à agência abrir conta para o Senhor”.
Felizmente a roda da vida gira e, hoje, graças ao vulto de mensagens dirigidas à Ouvidoria do Banco e ao Gerente Geral da agência, mandadas as mensagens por amigos espalhados pelos quatro cantos do País, voltamos a ser Colegas, o Gerente Geral da agência da Praia de Iracema e seus Gerentes de atendimento, em especial a querida Gerente que proferiu aquela terrível sentença.

Holbein Menezes

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Histórias que me custam contar - final

Henrique Augusto Carvalho Soares

Segundo semestre de 1990, por conta da Síndrome do Pânico e do desconforto em não enteder muito bem as regras dos poderosos, eu encontrava-me perdido. Por prazer, exercia o que acreditava ter de melhor, a compaixão. Eu fui por diversas vezes, sem perceber, uma espécie de intermediário entre pedidos, indicações, frustrações e êxitos. Minha cabeça imatura creditava ao bom senso e ao bem querer a forma amável com que me tratavam. Minha cabeça imatura creditava à imaturidade daqueles que me tratavam como um opositor, Mauricinho ou coisa parecida. Pude perceber a aversão por parte da comunidade masculina jovem aos Funcis do BB, que sob sua ótica, eram ricos, metidos a besta ou coisa parecida. Tenho consciência que tive a capacidade de desmistificar muito isso. Fiz programa de Rádio, abri uma loja de discos, e no que podia ajudava a comunidade. Tenho amigos até hoje que me ligam de lá. Mas quase nunca falam do Banco e, quando falam é pra dizer que a Agência já não é a mesma daquela época, reduziram em 80% o número de funcis. A propósito, encontrei recentemente o Colega, Sebastião, que foi meu Chefe no SETIN e que com os olhos marejados falou-me de sua "demissão", em face de ter se recusado a ser transferido. No final daquele ano, mais uma "boa notícia", meu sogro havia sido nomeado Superintendente Regional. A mesma festa chata entre parabéns sussurrados e eu a me questionar qual era o meu papel naquilo tudo. Perdi a identidade ou ainda não assumir o Banco do Brasil. Alguma coisa não estava batendo muito bem. Achei que já era a hora de voltar pra minha terra natal, São Luís. Solicitei transferência, fui atendido. Recebi a notícia que assumiria na Agência Pedro II, que seria inaugurada no dia 20.03.91. Eu e Dona Mônica chegávamos como Caixa Efetivo. A Superintendencia ocupava o segundo e terceiro andar daquele mesmo prédio. Apesar de já saber muito da vida do Funcionário Brandão (Superintendente) e como ficaria uns três meses hospedado em sua casa, tratei de prestar mais atenção em como ele via o BB no seu todo, bem como conhecer sua trajetória. Concluí que ali estava um homem íntegro, honesto, dedicado, ambicioso e apaixonado pelo BB. Fiquei orgulhoso e triste. Eu não sentia o mesmo. Minha ligação com o Sindicato, minha língua solta nas reuniões, meus rompantes, nunca foram aplaudidos, nunca foram retrucados, isso hoje eu acho simples de entender. Meados de 1991, as coisas começam a mudar. Como num filme de suspense envolvendo "poderes maiores", recheado de encenações, traíragem e política. Meu Sogro, numa manhã de segunda feira ao chegar para o trabalho e abrir a porta de sua Sala, depara-se com o Sr. Dorian Riker Teles de Menezes ocupando aquele lugar. O Sr Dorian era o mesmo que ha 15 dias atrás adentrava aquela mesma sala em choro compulsivo pedindo para o Sr Brandão interceder a quem preciso fosse afim de suspender seu processo de Aposentadoria, pois ele não estava aguentando... Em meio a sessões de Psicanálises e injestões de Calmantes que quase nada adiantavam eu me perdia muito mais, não só sofria, como somatizava também a dor do meu próximo mais próximo. Será que quem me falou maravilhas de tudo isso aqui, mentiu pra mim? Não, não mentiram. Só tinham visão diferente da minha. Eu era muito grande pro Banco e o BB era muito grande pra mim. Resolvi prestar Vestibular para Psicologia na Universidade Federal, fui aprovado, fiquei Super feliz. Ao contrário de outras vezes, agora sim eu esperava pelos parabéns, mas eles não vieram. Eu já não era mais genro do Superintendente. Por outro lado eu podia suspirar aliviado e quem sabe me livrar do estigma dos rótulos a mim apregoados. Mas a mudança por mim observada foi um tanto demais. Perdi a efetividade no Caixa, perdi as deferências sempre tão singelas em minha direção e ganhei cobrança e pressão de todas as ordens (Não me sinto a vontade no momento para expô-las aqui). Como não me cabia, não me cabe, não me caberá o papel da indiferênça diante das injustiças, tudo aquilo, toda aquela mudança repentina veio desencadear uma revolta interior muito grande. Tudo era uma avalanche enorme na minha cabeça. Os dissídios, os abonos salariais, os cala bocas, as festas promovidas pela cúpula envenenando meus colegas com a ilusão de que aquilo era bom. O Pânico tomava proporções avassaladoras. Auto internações, medicamentos, sessões psicanalíticas e o que pior, meus familiares olhavam com desconfiança esse redemoinho da minha vida. Entre Licenças e voltas, chegamos a 1997. Veio a então separação de minha esposa, colega de Banco e um tanto avessa aos meus sonhos devaneados. Funcionária competente, dedicada. Meus filhos, Tiago e Daniel, razões do meu viver, trataram mesmo muitos pequeninos, de me fazer entender que meu papel de Pai não se dissolvia como minha relação com sua Mãe. E ela sabiamente até hoje não abre mão de meu papel responsável de Pai. Papel no qual me esfor;co para cumprir com amor, muito amor. Era junho de 1997, segui até a mesa do meu Gerente, João Parente Timbó, fui no intuito de pedir demissão, mas sabia que ali eu queria mesmo era um socorro. Ouvi dele: "Henrique, você precisa de uma licença. Falei com o Chefe da Cassi e ele está te aguardando", Em meio a lágrimas agradeci e fiz o que ele me sugeria. Na CASSI, fui atendido. Passei então a navegar na gangora da Ansiedade Transtornada. Perícias, perícias, perícias... Encontrei por acaso o Dedé (Aquele do PAVAN), ele convidara-me a voltar pro BB, e dessa vez na sua AGÊNCIA (REVIVER). Puxa, fiquei feliz. Marquei consulta com meu Médico e lhe relatei o fato, eu queria voltar. Como num rompante, este levantou-se e desferiu: "Você volta e eu deixo de ser seu Médico. Por acaso não vês que o BB não precisa de ti, que o BB é teu mais forte Agente Desencadeador de crises?. Fiquei impávido, tantos filmes começaram a passar em mim, tantas perdas, tantas frustrações. Sentir-me fraco, sem rumo. Pensava: Sou tão novo, e agora? Peguei uma mala, um vídeo cassete, algumas fitas e dirige-me pra uma Clínica Psiquiátrica, pedi internação. Depois do terceiro dia ali, meu Médico Psiquiatra (O mesmo) adentrou meu quarto e questionou-me o que significava aquilo. Respondi que não sabia, mas que quando soubesse eu pediria alta. Ele num largo Sorriso aconselhou-me a levar meu curso na Universidade a sério para poder ajudá-lo. Claro que isso era mais que uma força que ele queria me dar, era mais um exercício de gentileza. 1999, numa tarde de um dia qualquer, minha mãe juntamente com meu irmão e Minha saudosa Mãedindinha entram no meu quarto e em meio a lágrimas seguido pelo um pedido de desculpa por ter aberto uma correspondência endereçada a mim, entrega-me uma Carta de Concessão de Aposentadoria (INSS). Meu olhar fitou o não sei o que, enquanto minha Mãe, meu irmãoi e minha Vó festejavam. Talvez por altruísmo, sei lá, até hoje não perguntei o que eles comemoravam. Foi também uma festa que não entendi. Mergulhei no poço que ecoava o "já deu". Estourei Cheque Especial, cartão de crédito, Cooperforte, não recebi o seguro prometido pela AAFBB, não ingressei em nenhuma ação na ANABB,
passei a odiar aquele logotipo BB e até as cores azul e amarelo. Mas o tempo passou, eu fui me recuperando, tratei de conservar o que tenho de mais valioso. A Compaixão é minha companheira, a consciência dos meus passos errados não fazem de mim um sofredor. Hoje, por um acaso cheguei a AAPREVI, antagonicamente fiquei feliz ao ver tão poucos seguidores, e pensei como o poeta "Tudo azul, todo mundo nu. No Brasil sol de norte a sul, Tudo bem, tudo zen, meu bem, Tudo sem força e direção. Nós somos muitos, não somos fracos, Somos sozinhos nessa multidão. Nós somos só um coração, Sangrando pelo sonho de viver". E assim com nossas vitórias que sabe eu desfrute de um prazer que nunca eu tive de usufruir: Abrir meu espelho. Desculpem pelas vezes que me perdi, desculpem meu português ruim, mas aceitem minha sinceridade como pre requisito para estar aqui. Abraços.

Henrique Augusto Carvalho Soares

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Histórias que me custam contar

(Henrique Augusto Carvalho Soares)

Dia 09 de fevereiro de 1988, eu tomava posse no BB na cidade de Pedreiras MA. Fiquei um tanto assustado quando adentrei ä Agência e manifestar meu desejo de falar com o Gerente, Sr. Gonçalo Pereira Alves, fui quase advertido por um funcionário, Chagas, a questionar-me do que se tratava, porque se fosse pra tomar posse que eu falasse com um outro funci, Cavalcante, Mas eu insisti, uma vez que obedecia recomendações de meu Sogro, José de Ribamar Ribeiro Brandão (Chefe de Setor da Super Regional), para eu falar primeiramente com o Gerente, pois o mesmo me aguardava. Ufa, consegui, Na minha imaturidade cheguei a pensar que algo de muito importante eu carregava comigo, pois depois fiquei sabendo de que existia uma "Regra" que o Sr, Gonçalo não falava com PE. Ao me apresentar, ele soltou um largo sorriso e abrindo uma gaveta colocou em minhas mãos um molho de chave, dizendo: Essa é sua casa, fica na Vila dos Bancários e o que será descontado em sua folha é um valor irrisório. Puxa, fiquei muito feliz, Agora só alguns minutos separavam-me do meu objetivo maior: Assinar os papéis da CASSI, que iriam tirar o peso da preocupação de ver meu filhinho Tiago, nascer com toda assistência que tanto me preocupava não poder ofertá-lo. Dona Mônica, também tinha logrado êxito no Concurso para o BB, mas em face de estar grávida, não podia assumir ainda. Tudo se passava quase normalmente, quando comecei a ver ao meu redor uma certa divisão nos tratamentos. Um lado me babava todo, e o outro me olhava de canto de olho. E eu? - Fiquei um tanto desnorteado, perdido em meus valores de essência e adquiridos com meus Pais. A realidade cobrava-me atitudes de cumpridor de meu dever assumido e rebeldia imposta pela falange dos sufocados. Sem querer percebi que não me tornava colega de ninguém, mas amigo. Fui chefe substituto do Tesoureiro com poucos meses de Banco, e eu ria de tudo aquilo. Eu não me encontrava, não estava preparado. Ao invés de ficar inebriado de orgulho e agradecer aos Céus, eu me perguntava: O que é isso? - Comecei a desconfiar de mim, do meu super carisma, do meu gosto musical, do meu jeito espirituoso de ser. Até que em busca de respostas para aquela situação veio algumas certezas que perduram até hoje. Meu então sogro era Chefe de Setor Super Regional, meu tio, Elisabeto Carvalho Soares, Chefe, sei lá, da Compensação Nacional, meu Pai, José Anastácio Carvalho Soares, chefe no CESEC. PQP, a cúpula daquela agência queria que eu fosse alguma coisa urgentemente, e eu automaticamente, propositadamente não respondia aos comandos. Virei delegado sindical, resolvi não ser alvo de porcaria nenhuma. Entendi que não havia ali, nem quem me amasse e muito menos me odiasse. É verdade que o esforço era enorme pra não ver as bajulações e jogadas de ombros em minha direção. E, eu ia resistindo. Mas de alguma de alguma forma um ser 100% emocional como eu ainda se abalava, muito mais com quem o retaliava. O meu desempenho como Delegado Sindical foi o maior triunfo mara meus supostos opositores. Foi como se eles gritassem mudos: Seus babacas, babões, ele é um dos nossos. Fiquei feliz, confesso! Fui melhor na Vice Presidência Social da AABB, do que no guichê do Caixa. Tentei combater idéias esdrúxulas, mas senti que estava avançando sinais, estava misturando as coisas, certas coisas ou não me diziam respeito, ou eu nada poderia fazer para mudá-las, A babação ainda me incomodava. Fui mandado para prestar serviço no PAVAN de Joselândia (reforçar meu caixa). Eram eu e dois colegas, José Medeiros Sobrinho (Ainda na ativa) e o saudoso Bento Almeida Rocha. Mesmo em sendo só nós três, o ciúme ou sede de justiça por parte do meu colega Bentinho veio a tona, Então um dia ao cair da tarde tomando uma cerveja, ele me fitou os olhos e falou: Mago véio, eu sou Caixa a tantos anos e tu entrou ha pouco mais de um ano no Banco, porque então não sou eu o Caixa do PAVAN? Eu o fitei de volta, abasteci nossos copos e vi ali um homem indignado, enojado e triste, assim como eu. Era dia 06 de outubro de 1989, sexta feira, estávamos voltando para Pedreiras naquele Jipe que pulava mais que pipoca. Era uma estrada de chão duro e cheia de buracos. Por volta das 15.00h, sensações estranhas, desesperadoras, inomináveis começaram a tomar conta de mim. Lembro que em meio a um terrível choro compulsivo, questionava o Dedé, a dizer: Por favor Dedé, me diz o que estou sentindo? - Essa pergunta, eu já não faço a algum tempo, ela silencia diante de Ansiolíticos e Antidepressivos. Vem 1990, meu sogro é nomeado Gerente Geral da Agência Centro (S. Luís). Eu não entendi muito bem a festa feita em minha agência por aquilo. Acredite, fui dispensado do trabalho. Até uns tempos desses eu me questionava em risos o que era, o que é isso. As crises continuavam. Um dia recebendo a visita de Dona Luizinha, esposa do Gerente, Seu Zé Carlos, e em meio a mais uma crise ele adentrou a sala, virou para mim e disparou: "Henrique, vá até a Agência e diga ao seu Chefe que autorizei férias antecipadas para você. Você vai pra São Luís se tratar e quando ficar bom retorna". Eu, em meio àquele disparate, emendei: Férias antecipadas é o ca-------. Doença se trata com licença saúde. Peguei minhas coisas, um ônibus e rumei para a Capital. Fui até a Agência Centro, onde funcionava o CEASP/DEASP e falei com o Chefe Dr. Carlos de Jesus Dantas (Saudoso), que era conhecido por não gostar de conceder licença, mas comigo foi diferente, deu-me logo 90 dias e me matou mais um pouco. Retruquei: "Dr Carlos Dantas, não faça isso comigo, vou sentir muita falta de meu filho", Mas ele não titubeou e me desferiu outro golpe: "Esses 90 dias é só pra começar". Naquele momento parecia que eu era carta fora do baralho. Meus pedidos de ressarcimento eram arquivados lá em Pedreiras, minhas solicitações... Isso mesmo, ao invés de levar todas as minhas solicitações diretamente a CASSI, pensava que tal procedimento obrigatoriamente teria que passar pela Agência na qual eu era lotado. A 1000 exames investigativos me submeti, até chegar as mãos do Psiquiatra e dele ouvir o Diagnóstico: "Síndrome do Pânico". Ufa, agora já posso morrer "tranqüilo", pensei. Confesso que do início deste email chato até agora já tomei alguns cafezinhos e fumei alguns cigarros, é que tenho consciência do meu português ruim e da minha falta de vergonha. De posse da minha falta de vergonha, tento adivinhar as teclas do PC e continuar mais um pouco. Porém, afim de não se tornar cansativo, concluo esta primeira parte afirmando a minha primeira grande lição: O PODER TEM A CAPACIDADE NA MAIORIA DAS VEZES, DE RETIRAR DAS PESSOAS O QUE ELAS POSSAM TER DE MELHOR. AS PERSONALIDADES SE MULTIPLICAM NUMA COVARDIA QUASE QUE CONVICENTE AOS IMATUROS E CHEIOS DE BOA FË. Desculpa pelo email cansativo, até eu estou cansado. Mas ainda tem mais. Vem 1991. Meu sogro é nomeado Superintendente Regional.

Henrique A C Soares - matrícula 4.096.429-9
muito feliz

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O VELHOTE DO CAROÇO

Marcos, em 1979 eu consegui uma transferência e estava finalmente na minha terra natal, Guaíba (RS), de mala e cuia.

A Agência era grande e bem diferente das duas onde já tinha trabalhado, a bem da verdade na terra da gente é tudo diferente, ainda mais que a clientela é conhecida e nunca falta “Oi como vai teu pai? Como vai tua mãe?”, e isto era muito gostoso mesmo.

Para não fugir à regra, nem tudo era perfeito e a agência tinha uma deficiência em “material” feminino, o que dificultava lotar alguém na “Plataforma”.

Sendo assim a administração optou por utilizar dois rapazes, funcionários novos e até “bem apessoados” e fui um dos escolhidos. Gostou dessa? Eu hein? “Alain Delon de Guaíba!”. Que saudade! E dizer que até cabelo eu tinha!

O outro se chamava Gerson, meu amigo desde a infância e formamos uma dupla das boas.

Eu já era casado, ele quase lá e nos valemos de uma boa amizade com o gerente da CEF para conseguir um financiamento do BNH(lembra?), pois já tínhamos comprado terreno, faltando só a “verba” para a construção.

A coisa não era fácil, construía primeiro e recebia a liberação da parcela depois da vistoria do engenheiro da CEF, mas sendo a única alternativa da época, tivemos que encarar assim mesmo.

Inevitável que logo ficamos numa penúria danada e estávamos sempre jogando com o dinheiro de um e do outro. Era na base do “vendo meu carro e te empresto um pouco, mais adiante tu vende o teu e me devolve”, enfim uma verdadeira ginástica financeira.

Eis que, trabalhando na Plata, éramos os encarregados de entregar os carnês do INSS para os aposentados, pois naquele tempo nem se falava em cartão magnético.

Um belo dia recebemos um novo “produto”. Um seguro de vida para vender. Exigências poucas, coisa da época. Era só preencher os dados e nomear o beneficiário. Nunca vendemos nenhum.

Em meio ao expediente, ele atendendo aberturas de contas e eu entregando os carnês, olhei para a fila e vi um “velinho”, que tinha um “caroço” horrível bem no topo da cabeça. Coisa muito feia, sem dúvida era um tumor exposto.

Cutuquei o Gersom e disse: “Olha lá, aquele velinho do “caroço”, não dura dois meses. Vamos fazer um seguro daqueles para ele e entramos como beneficiários. É fácil e ele nem vai saber o que está assinando”!

Claro que meu companheiro (cumpanhero não, por favor) se empolgou na hora. “Bah, pagamos as contas e ainda terminamos a casa”.

Nesse conversa daqui e dali, eu atendi o velhote e o dispensei. Deixamos para o mês seguinte, dando um prazo para discutir melhor o negócio.

Foram 30 dias de planejamento intenso, armamos até uma estratégia para “aliciar” o potencial defunto. Contas de todas as formas. Sonho de vida resolvida, até carro novo pintou nos planos.

Em poucos dias eu fui mandado para a Tesou e ele ficou lá com outro colega. Não voltei mais e nosso plano foi para o espaço. Nossa riqueza ficou só no sonho, embora soubéssemos que na hora “H” não teríamos coragem de fazer, mas pelo menos valeu sonhar com os milhões.

Passou o tempo, fui embora de Guaíba e ele também. No início da década de 90 estávamos de volta, quase ao mesmo tempo.

Eu na bateria de Caixa e ele novamente na Plata.

Por ironia do destino, me coube pagar os aposentados do INSS, coisa que fazia com o maior prazer, pois realmente gostava de ver a felicidade deles pondo a mão na grana e digitando a senha com as mãos trêmulas, como se aquilo fosse a coisa mais importante de suas vidas.

Lembro de alguns, já trôpegos, que paravam na minha frente e os amigos gritavam lá da fila: “Fulano, agora põe os números, aqueles do papel”. Ô tempo bom. Saudades!

Marcos, pois não é que eu levanto a cabeça e chamo “Próximo” e quase caí do banquinho, veio de lá, mais de dez anos depois o velhote do “caroço”, firme e sorridente, com o caroço do mesmo jeito!

Olhei para a Plata e chamei o Gersom. Bastou ele levantar a cabeça e teve um ataque de riso. Eu outro. Larguei o guichê, corri para a cozinha. Cada vez que me recompunha e chegava na porta para voltar eu me deparava com o caroço do velhote e desabava outra vez. Não teve jeito, o supervisor da bateria teve que passar minha fila para o caixa ao lado.

Bem, ao menos economizamos o dinheiro do prêmio do seguro!

Ary Taunay Filho - Guaíba (RS)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

MILAGRE

Esta história, mais que todas, merece ser lida. É uma lição de vida, de sofrimentos e de fé. Principalmente do resgate da fé quase perdida. Ela me foi enviada com a seguinte recomendação:

"Marcos,

Esta é uma história que não fecha com o objetivo das histórias do teu blog, mas é uma realidade. Não conto para postar, apenas para te contar, porque já são 4 da matina e perdi o sono."

Aqui peço desculpas ao autor por não atender seu pedido. Não terei sossego se egoisticamente guardar esse segredo que não me pertence.
Marcos Cordeiro.

Eis a história:

MILAGRE


Marcos, eu deixei o BB em 95 e iniciei um negócio de distribuição de pescado.
Comprei um furgão refrigerado e aluguei um espaço numa câmara fria para depositar meus produtos.
Ao lado funcionava uma lojinha de instalação de som automotivo e alarmes, pertencente a um ex-colega de Guaíba, que havia se transferido para o Cesec Bairro Anchieta no horário noturno.
Ali eu ficava nas horas vagas, entre uma entrega de mercadoria e outra.
Um dia ele me chamou e perguntou se eu não gostaria de participar de umas ações judiciais contra a Previ, que um outro ex-colega pedevista estava promovendo.
Não me interessei, até porque acreditava na época que a Previ não me devia nada, mas o colega, Marcos Castro, seu tocaio, insistiu dizendo: “Deixa de bobagem, me dá cá teus documentos, que tiro cópia aqui no fax, assina esta procuração e deixa a coisa correr”.
Assim concordei, entreguei meus documentos e assinei a tal procuração, mas quando ele me disse que deveria deixar 50 reais para despesas, aí a coisa mudou de figura e eu não quis nem saber mais de conversa.
Logo depois meu pequeno negócio não deu certo e eu me afastei dalí perdendo o contato com o Marcos Castro.
O tempo passou e as dificuldades vieram e com muita força. Meu dinheiro acabou, emprego eu não conseguia e para ajudar ainda tive um infarto em 1998 e outro em 2000. Fiquei em petição de miséria e não fosse minha mãe e minha esposa, que vendia roupas de porta em porta, não sei o que teria acontecido comigo.
No final de 2000, depois da cirurgia de ponte de safena, consegui um emprego como gerente local de uma transportadora sediada no interior do estado e por necessidade me obrigava a carregar caixas de iogurte dentro de uma câmara fria para nossos caminhões distribuírem durante a noite.
Foi realmente uma época difícil, meu médico queria me enforcar, mas eu realmente precisava.
Infelizmente a tal transportadora fechou e o proprietário, sem dinheiro o coitado, não tendo como me pagar, me deu um carro velho por conta. Realmente um verdadeiro “caco”, mas ao menos andava, meio mal, mas andava. Era tão velho que nem IPVA pagava mais e ainda por cima a álcool o miserável, mas era o que eu tinha, fazer o que.
Foi um trabalho que durou até meados de 2002 e logo consegui ajuizar ação contra o INSS e depois de muita luta me aposentei por invalidez, mas infelizmente com um valor muito baixo, valor este que só consegui aumentar para o teto depois de uma nova ação findada em 2005.
Era pouco, mas sem poder trabalhar e juntando com os “pingados” da minha esposa, dava para ao menos não morrer de fome.
No natal de 2003 o “calhambeque” ainda estava comigo, não que eu não tivesse tentado vender, mas a verdade é que ninguém queria e eu para fazê-lo andar já estava tão “craque” em carburador, que montava e desmontava até no escuro.
No dia 24 meu sogro mandou recado convidando para a ceia em sua casa, mas lá em Canoas, uns 30 km distante e a noite ainda por cima. Será que o “veículo” chega lá? Mas, como era por uma causa nobre, resolvi arriscar.
Não deu outra! Bem no vão central da ponte móvel do Rio Guaíba o “marvado” tossiu e não teve mais jeito. Empurrei ponte abaixo e parei na beira da rua. Montei, desmontei, remontei e lá pelas 3 h da madrugada consegui fazer o infeliz funcionar.
Claro, noite de natal perdida, voltei para casa e fui dormir. Depressão total!
Passados mais alguns dias, ano novo, vida nova, mas para os outros porque a minha continuava a mesma porcaria e até pior, porque a situação apertou de um jeito, que eu não tinha nem para comer mais.
Numa situação tão crítica conversei com a esposa e decidimos fazer a única coisa possível. Vamos tentar vender o “caco” e se ninguém quiser, vamos entregar para o desmanche, que pelo menos pode dar para as compras do mês.
Então fui para o centro de Guaíba, onde morava e moro até hoje, aproveitando para dar uma passada para visitar minha irmã, advogada e dona de uma imobiliária, onde trabalha junto com o marido.
Conversando sobre a situação crítica, muito calor lá fora e matando o tempo para aproveitar o ar condicionado, meu cunhado abriu a porta da sala dele e gritou: “Teu irmão ainda tá aí? Telefone prá ele!”
Pensei, “ué, quem pode ser? Quem saberia que estou aqui?”.
Fui atender e era o Marcos Castro, meu velho colega da lojinha de som: “Ary? Homem de Deus, onde tu andas? Faz uma semana que tento te achar. Lembra daquele advogado nosso colega? Aquele da ação contra a Previ?”
Surpreso, claro que eu não lembrava, afinal se passaram oito anos e muita água correu por debaixo da ponte: “Que advogado Marcos? Que ação de Previ? Não sei de nada?”
Então ele me explicou que o tal advogado, Dr. Barreto, precisava muito falar comigo. Deu-me um número de celular e me mandou ligar. Disse que o homem estava atrás de mim já há uns dois meses, que tinha ganhado uma ação e queria me pagar.
Claro que eu não entendi nada, afinal não entrara com ação nenhuma, certamente deveria ser engano, mas então a coisa ficou clara.
O tal advogado, depois de ter entrado com várias ações em grupos de três colegas, sobraram dois e ele procurava mais um para ajuizar a última. Esteve na lojinha do Marcos e perguntou se não havia mais alguém.
- Bem, não tenho mais ninguém, mas guardei os documentos e a procuração de um amigo, mas ele não quis pagar os 50 reais. É só o que tenho.
- Tudo bem, me dá esse aí mesmo sem os 50 reais, pelo menos eu fecho o grupo e ajuízo mais uma, a última.
Foi então que entendi o que tinha acontecido. Peguei o número de celular e liguei na hora, claro que num nervosismo só, afinal era dinheiro caindo do céu e isto não é todo dia.
A boca seca, as mãos tremendo, liguei e o homem atendeu.
- “Ary? É o Ary Taunay de Guaíba?
- Sim, sou eu mesmo!
- Finalmente te achei! Preciso falar contigo. Ganhamos a ação contra a Previ e estou com teu dinheiro. Encontra-me amanhã 11 h no saguão do Banrisul da Av. Cavalhada, que assinamos os recibos e já te dou o cheque!
E a ligação caiu. Tentei, tentei várias vezes e nada. Só dava telefone fora da área de cobertura. Continuei tentando até anoitecer, mas como minha irmã tinha que fechar, desisti e fui embora.
Embarcamos no “caco”, que escapou do desmanche por muito pouco e fomos para casa.
Naquela noite não dormimos. Nervos a flor da pele, porque o principal eu não fiquei sabendo. Afinal qual o valor do cheque? A noite foi de cálculos variados. Rebusquei papéis velhos da Previ, revisei todos os meus espelhos, calculei, recalculei, mas tudo sobre conjecturas, porque nem ao menos sabia do que se tratava a ação.
Amanhecendo o dia chegamos a conclusão de que deveria ser algo em torno de 5 mil reais, o que para nós já era uma fortuna e resolvia todos os meus problemas, dava até para consertar o “caco”.
A grana era curta demais e minha irmã me emprestara 20 reais para o combustível, mas minha esposa estava muito desconfiada, pois o Marcos era muito brincalhão e estávamos com medo que fosse algum trote, daqueles de fazer o sujeito ir lá para a frente do banco e ficar sonhando com cara de otário.
Por conta disso nos precavemos e fomos mais cedo e qualquer movimento estranho era só dar no pé antes do “click” de alguma máquina fotográfica.
Mas tudo transcorreu normalmente. Deu 11 horas e nada, mais um pouco e nada. Eu tremia que nem falava mais. Então estacionou uma Blazer do outro lado da rua e desceu um sujeito alto, pasta na mão, apressado. Eu não sabia quem era, muito menos se era o tal advogado, nunca o vi e nem sabia como era.
O sujeito entrou na agência, olhou em volta e me viu ali parado.
- Tu que é o Ary?
- Sim, sou eu.
-Prazer, Luis Barreto, estou com teus documentos e o cheque, vamos indo para o caixa porque estou atrasado. Na fila tu assina o recibo.
- Não Doutor! Espera aí, só um pouquinho. Afinal, que cheque? O que eu tenho para receber?
- Mas como? Eu disse ao telefone, tu não ouviste?
Botou a mão no bolso da camisa e me deu o cheque, dobrado. Eu abri e quase tive outro infarto. Estava ali, limpo e claro : Um cheque de 81 mil reais.
Eu não falava, mal respirava. Minha mulher tremia mais que vara verde e eu louco de medo, ainda não acreditava. Cheguei ao caixa. Ele mandou botar 80% na minha conta (era o banco da minha aposentadoria) e o resto na conta dele por conta dos honorários.
Eu ainda não acreditava. Tinha que ver as notas, então pedi 5 mil em dinheiro e a funcionária me deu. Era real, era verdade!
Assinei os papéis e ele foi embora.
Para ficar finalmente convencido, corri para o caixa eletrônico, saquei mais 1 mil reais e tirei extrato. Estava lá, tudinho na minha conta, aquele monte de números.
Amigo Marcos, se a minha fé em Deus estava em baixa por conta de tanta desgraça, fiz o “mea culpa” e pedi perdão.
Depois fiquei sabendo que nenhum dos processos dele tinha se resolvido ainda, pois a Previ embargava sem parar, apenas o meu, o último escapou, porque haviam perdido um prazo de recurso e foram obrigados a pagar.
Nunca me esquecerei deste dia.
Reformei minha casa e moro nela até hoje. Vendi o “caco” e comprei um que andava. Meu filho menor ganhou roupas novas e parou de usar sobras dos primos e tive o prazer de levá-lo para conhecer o Beto Carrero, mas o principal foi pagar minha dívida com o INSS e poder requerer a revisão do meu benefício, que chegou até um valor razoável para dar uma vida melhor aos que há tanto tempo me acompanhavam calados numa jornada tão penosa.


Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)
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