quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Histórias que me custam contar - final

Henrique Augusto Carvalho Soares

Segundo semestre de 1990, por conta da Síndrome do Pânico e do desconforto em não enteder muito bem as regras dos poderosos, eu encontrava-me perdido. Por prazer, exercia o que acreditava ter de melhor, a compaixão. Eu fui por diversas vezes, sem perceber, uma espécie de intermediário entre pedidos, indicações, frustrações e êxitos. Minha cabeça imatura creditava ao bom senso e ao bem querer a forma amável com que me tratavam. Minha cabeça imatura creditava à imaturidade daqueles que me tratavam como um opositor, Mauricinho ou coisa parecida. Pude perceber a aversão por parte da comunidade masculina jovem aos Funcis do BB, que sob sua ótica, eram ricos, metidos a besta ou coisa parecida. Tenho consciência que tive a capacidade de desmistificar muito isso. Fiz programa de Rádio, abri uma loja de discos, e no que podia ajudava a comunidade. Tenho amigos até hoje que me ligam de lá. Mas quase nunca falam do Banco e, quando falam é pra dizer que a Agência já não é a mesma daquela época, reduziram em 80% o número de funcis. A propósito, encontrei recentemente o Colega, Sebastião, que foi meu Chefe no SETIN e que com os olhos marejados falou-me de sua "demissão", em face de ter se recusado a ser transferido. No final daquele ano, mais uma "boa notícia", meu sogro havia sido nomeado Superintendente Regional. A mesma festa chata entre parabéns sussurrados e eu a me questionar qual era o meu papel naquilo tudo. Perdi a identidade ou ainda não assumir o Banco do Brasil. Alguma coisa não estava batendo muito bem. Achei que já era a hora de voltar pra minha terra natal, São Luís. Solicitei transferência, fui atendido. Recebi a notícia que assumiria na Agência Pedro II, que seria inaugurada no dia 20.03.91. Eu e Dona Mônica chegávamos como Caixa Efetivo. A Superintendencia ocupava o segundo e terceiro andar daquele mesmo prédio. Apesar de já saber muito da vida do Funcionário Brandão (Superintendente) e como ficaria uns três meses hospedado em sua casa, tratei de prestar mais atenção em como ele via o BB no seu todo, bem como conhecer sua trajetória. Concluí que ali estava um homem íntegro, honesto, dedicado, ambicioso e apaixonado pelo BB. Fiquei orgulhoso e triste. Eu não sentia o mesmo. Minha ligação com o Sindicato, minha língua solta nas reuniões, meus rompantes, nunca foram aplaudidos, nunca foram retrucados, isso hoje eu acho simples de entender. Meados de 1991, as coisas começam a mudar. Como num filme de suspense envolvendo "poderes maiores", recheado de encenações, traíragem e política. Meu Sogro, numa manhã de segunda feira ao chegar para o trabalho e abrir a porta de sua Sala, depara-se com o Sr. Dorian Riker Teles de Menezes ocupando aquele lugar. O Sr Dorian era o mesmo que ha 15 dias atrás adentrava aquela mesma sala em choro compulsivo pedindo para o Sr Brandão interceder a quem preciso fosse afim de suspender seu processo de Aposentadoria, pois ele não estava aguentando... Em meio a sessões de Psicanálises e injestões de Calmantes que quase nada adiantavam eu me perdia muito mais, não só sofria, como somatizava também a dor do meu próximo mais próximo. Será que quem me falou maravilhas de tudo isso aqui, mentiu pra mim? Não, não mentiram. Só tinham visão diferente da minha. Eu era muito grande pro Banco e o BB era muito grande pra mim. Resolvi prestar Vestibular para Psicologia na Universidade Federal, fui aprovado, fiquei Super feliz. Ao contrário de outras vezes, agora sim eu esperava pelos parabéns, mas eles não vieram. Eu já não era mais genro do Superintendente. Por outro lado eu podia suspirar aliviado e quem sabe me livrar do estigma dos rótulos a mim apregoados. Mas a mudança por mim observada foi um tanto demais. Perdi a efetividade no Caixa, perdi as deferências sempre tão singelas em minha direção e ganhei cobrança e pressão de todas as ordens (Não me sinto a vontade no momento para expô-las aqui). Como não me cabia, não me cabe, não me caberá o papel da indiferênça diante das injustiças, tudo aquilo, toda aquela mudança repentina veio desencadear uma revolta interior muito grande. Tudo era uma avalanche enorme na minha cabeça. Os dissídios, os abonos salariais, os cala bocas, as festas promovidas pela cúpula envenenando meus colegas com a ilusão de que aquilo era bom. O Pânico tomava proporções avassaladoras. Auto internações, medicamentos, sessões psicanalíticas e o que pior, meus familiares olhavam com desconfiança esse redemoinho da minha vida. Entre Licenças e voltas, chegamos a 1997. Veio a então separação de minha esposa, colega de Banco e um tanto avessa aos meus sonhos devaneados. Funcionária competente, dedicada. Meus filhos, Tiago e Daniel, razões do meu viver, trataram mesmo muitos pequeninos, de me fazer entender que meu papel de Pai não se dissolvia como minha relação com sua Mãe. E ela sabiamente até hoje não abre mão de meu papel responsável de Pai. Papel no qual me esfor;co para cumprir com amor, muito amor. Era junho de 1997, segui até a mesa do meu Gerente, João Parente Timbó, fui no intuito de pedir demissão, mas sabia que ali eu queria mesmo era um socorro. Ouvi dele: "Henrique, você precisa de uma licença. Falei com o Chefe da Cassi e ele está te aguardando", Em meio a lágrimas agradeci e fiz o que ele me sugeria. Na CASSI, fui atendido. Passei então a navegar na gangora da Ansiedade Transtornada. Perícias, perícias, perícias... Encontrei por acaso o Dedé (Aquele do PAVAN), ele convidara-me a voltar pro BB, e dessa vez na sua AGÊNCIA (REVIVER). Puxa, fiquei feliz. Marquei consulta com meu Médico e lhe relatei o fato, eu queria voltar. Como num rompante, este levantou-se e desferiu: "Você volta e eu deixo de ser seu Médico. Por acaso não vês que o BB não precisa de ti, que o BB é teu mais forte Agente Desencadeador de crises?. Fiquei impávido, tantos filmes começaram a passar em mim, tantas perdas, tantas frustrações. Sentir-me fraco, sem rumo. Pensava: Sou tão novo, e agora? Peguei uma mala, um vídeo cassete, algumas fitas e dirige-me pra uma Clínica Psiquiátrica, pedi internação. Depois do terceiro dia ali, meu Médico Psiquiatra (O mesmo) adentrou meu quarto e questionou-me o que significava aquilo. Respondi que não sabia, mas que quando soubesse eu pediria alta. Ele num largo Sorriso aconselhou-me a levar meu curso na Universidade a sério para poder ajudá-lo. Claro que isso era mais que uma força que ele queria me dar, era mais um exercício de gentileza. 1999, numa tarde de um dia qualquer, minha mãe juntamente com meu irmão e Minha saudosa Mãedindinha entram no meu quarto e em meio a lágrimas seguido pelo um pedido de desculpa por ter aberto uma correspondência endereçada a mim, entrega-me uma Carta de Concessão de Aposentadoria (INSS). Meu olhar fitou o não sei o que, enquanto minha Mãe, meu irmãoi e minha Vó festejavam. Talvez por altruísmo, sei lá, até hoje não perguntei o que eles comemoravam. Foi também uma festa que não entendi. Mergulhei no poço que ecoava o "já deu". Estourei Cheque Especial, cartão de crédito, Cooperforte, não recebi o seguro prometido pela AAFBB, não ingressei em nenhuma ação na ANABB,
passei a odiar aquele logotipo BB e até as cores azul e amarelo. Mas o tempo passou, eu fui me recuperando, tratei de conservar o que tenho de mais valioso. A Compaixão é minha companheira, a consciência dos meus passos errados não fazem de mim um sofredor. Hoje, por um acaso cheguei a AAPREVI, antagonicamente fiquei feliz ao ver tão poucos seguidores, e pensei como o poeta "Tudo azul, todo mundo nu. No Brasil sol de norte a sul, Tudo bem, tudo zen, meu bem, Tudo sem força e direção. Nós somos muitos, não somos fracos, Somos sozinhos nessa multidão. Nós somos só um coração, Sangrando pelo sonho de viver". E assim com nossas vitórias que sabe eu desfrute de um prazer que nunca eu tive de usufruir: Abrir meu espelho. Desculpem pelas vezes que me perdi, desculpem meu português ruim, mas aceitem minha sinceridade como pre requisito para estar aqui. Abraços.

Henrique Augusto Carvalho Soares