terça-feira, 8 de junho de 2010

Eu sei que vou te amar

Um dia eu escevi minha "declaração de amor" ao BB. Vejam

Isa Musa de Noronha

Quando você pergunta qual é o maior banco do Brasil você já disse o nome dele. Pois foi esse o slogan que eu criei lá pelos idos 1970, quando ingressei no BB. Menina pobre do interior, em minha cidade só havia duas oportunidades de emprego: a velha RMV, ser ferroviária como meus avós, tias e meu pai ou ser professora. Eu caminhava lentamente para as duas opções. Amo a ferrovia. Para mim, até hoje é sinônimo de saudade e boas lembranças. Amo o Magistério! A oportunidade única de aprender enquanto se ensina. Mas, a vida cobrava saltos maiores e eis que me inscrevi no concurso para o Banco do Brasil. Até então, o BB sisudo, só permitia homens e a abertura para as mulheres foi um grande avanço para todas nós. E lá vou eu, de livro de matemática em punho estudar com um tio, velho funcionário do BB e cobra criada em contabilidade e rotinas bancárias. O dia da pro va foi uma angustia só. Suava frio. Na prova de datilografia meus dedos pareciam sofrer de artrose, mercê da emoção. Passei! Em casa foi uma festa só. Antigamente, meus amigos, os pais sonhavam que o filho fosse: médico, engenheiro ou funcionário do Banco do Brasil e ali estava eu! Funcionária do Banco do Brasil! Imaginem vocês que na agência onde tomei posse sequer existia um banheiro privativo para as mulheres. Éramos poucas e definitivamente o Banco não estava preparado para nós. Nossas roupas chamavam atenção destoando da indumentária padrão BB: calça social, camisa de manga comprida e gravata! E nós? Sem nada ainda previsto na CIC FUNCI, lá estávamos de vestido tubinho, sem mangas às vezes, ou blusa e saia godê, na altura dos joelhos. Um escândalo. Pior era a cara das esposas dos colegas... “Esse negócio de mulher o Banco não vai dar certo”, diziam algumas enciumadas. E nós nos pintávamos, passávamos perfume, usávamos brinc os, laços, pulseiras, todas coloridas, alegres, joviais e bem vestidas até que um dia... Não é que uma cautelosa esposa de gerente decidiu interferir na CIC e sugerir ao maridão que nós usássemos uniforme? Pois foi! Com menos de um mês lá estávamos todas nós de “terninho”, de tergal (quente como o quê), cinza chumbo, com uma blusa palha. Tenho ainda a foto! Viramos aquela coisa padrão... Sem adorno, sem agrado e logo éramos motivo de gozação. Alguns colegas mais engraçadinhos diziam que: quando nasce filha mulher, o pai pergunta: você quer ser bonita ou funcionária do Banco do Brasil? Felizmente a história do uniforme não durou muito, pois nem nos colégios tradicionais era mais obrigatório. Aos poucos, à meninada dos colégios foi permitido o uso de calças jeans e assim também no BB, cujo lema era: “Tradição que se moderniza”, a CIC liberou geral, desde que a roupa fosse decente. Com isso voltamos a ser figurinos apetitosos, muitas de nós arrumamos casamento com colega (dobrando o VP e a Licença prêmio), fossos amantes, fomos traídas, fomos cantadas, conquistadas e muitas de nós jamais tiveram outro “casamento”... Muitas de nós nos casamos com o BB: fizemos carreira, viramos gerente, supervisoras e até Superintendentes. Hoje são muitas as mulheres no Banco. Algumas até na Diretoria! E iremos mais longe, nos aguardem!

Isa Musa de Noronha - 30/09/2008 - 09:43