terça-feira, 29 de junho de 2010

Colorado doente!

Tomei posse na cidade gaúcha de Ibirubá em 1977, bem na época do escândalo do "adubo papel".

De cara me colocaram para "bater contrato" no Setop Rural, coisa que fazia com o maior orgulho, ainda no tempo da gravata obrigatória.
Um colega em especial, filho de agricultores, pessoa muito simples e trabalhando na mesma tarefa, conversava sempre sobre sua paixão pelo Internacional, inclusive por eu ser de Porto Alegre, estava sempre fazendo perguntas, pois não se convencia de como era na verdade o Estádio Beira Rio.
Havia outro colega que tinha assinatura do jornal Zero Hora, que diariamente trazia as notícias do estado e principalmente as novidades sobre a dupla Gre-Nal, mas o dono do jornal tinha um problema, porque todo dia na hora do lanche o "colorado doente" ia para a cozinha primeiro e na volta "roubava" o jornal, impedindo que seu legítimo dono desfrutasse das novidades.
Aí resolvemos aprontar uma.
Um ano antes o Grêmio ficara marcado pela passagem do jogador Oberdan, que vindo do Santos FC, fez história nos gramados gaúchos.
Conseguimos um jornal velho, da época da estréia do Oberdan e substituimos a parte dos esportes do jornal do dia.
Não deu outra, o "colorado doente" pegou seu lanche apressadamente e passou a mão no jornal. Sentou-se à sua mesa e exclamou com espanto: "Pessoal, olha só, o Oberdan tá voltando. Vai jogar domingo!"

A gargalhada foi geral e esta foi a última vez que "roubou" o jornal!

Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)
BB 1.416.100-1
Fones 51.34020160 e 98364401

Atenção Senhores Fumageiros

A recém inaugurada agência de Barra do Ribeiro(RS), tempo da Classe I, visava atender o orizicultores e fumageiros.
Logo que iniciamos as atividades éramos apenas cinco funcionários, mas logo chegou mais um, prontamente colocado no atendimento da Rural.
O sujeito era meio estranho, defensor ferrenho do meio ambiente e com umas idéias meio malucas a respeito de tudo, mas como a agência era muito pequena e com carência de pessoal deixa estar.
No primeiro dia de coleta de propostas para o plantio de fumo, o dito cujo lá estava pronto para a tarefa.
Fila imensa na rua e o agência abarrotada.
Eis que nosso "ambientalista" cola um cartaz na parede: "Senhores Fumageiros, vocês estão plantando a desgraça do Brasil".
Bem, o gerente ficou numa satisfação incrível!

Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)

BB 1.416.100-1
Fones 51.34020160 e 98364401

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Passeio na capital por conta do lucro!

Tomei posse no final de 1982 numa agência do sertão do Ceará, bem na divisa com a Paraíba. Éramos 26 novos funcionários provenientes em sua maioria de Fortaleza. Grande parte, jovens inexperientes em seu primeiro emprego que vieram desafogar a agência, na época trabalhando com uma quantidade imensa de adidos das mais diferentes localidades do país.

Os funcionários antigos já vinham armando um trote para cima dos calouros. Naquela época, nós recebíamos uma antecipação de um salário para ser pago em 25 prestações mensais sem juros. Junto com a documentação de posse que assinamos veio embutido um cheque avulso com a papelada da abertura da conta. Felizes da vida por estarmos tomando posse e sem conhecermos o famoso cheque avulso, assinamos em branco conforme nos foi solicitado. Só tomamos conhecimento para que serviria o tal documento (cheque avulso), quando no final do dia fomos ao caixa retirar nosso salário antecipado. Estava faltando uma parte dele. Tínhamos o recibo fornecido pelo SEFUN e o saldo era menor. Depois de pedir orientação aos nossos chefes fomos informados de que nós tínhamos doado parte dos proventos para a realização de uma festa na AABB local, comemorativa da nossa posse. Alguns até concordaram prontamente, como foi o meu caso, mas outros ficaram a se lamentar. Essa foi a primeira malandragem que aprontaram para os novatos. Dizem que cachorro que é mordido por cobra tem medo de lingüiça e depois dessa ficamos mais espertos, ou melhor, pensávamos que tínhamos aprendido a lição.

O final do ano vinha se aproximando e com ele a expectativa do lucro da agência. Perto do dia 31.12 eis que surge no quadro de avisos da agência uma convocação assinada pelo Gerente e Gerente Adjunto convidando possíveis voluntários que se encarregariam de levar o lucro da agência para Fortaleza com diárias e folgas. O alvoroço entre os novatos foi grande. Todos queriam fazer essa viagem não só pelo dinheiro, mas pelo fato de matar as saudades dos familiares. O comunicado dizia que seriam escolhidos apenas 03 funcionários. Todos os novatos se submeteram a uma entrevista na gerência para a escolha dos felizardos. Saíamos da entrevista confiantes e aguardando a tomada de decisão do gerente.

Passamos alguns dias numa cruel expectativa esperando sermos agraciados com a tal viagem. Chega o tão esperado dia para a divulgação dos eleitos. No dia 31 o resultado estava no quadro de avisos. Os três escolhidos não cabiam em si de tanta alegria e os outros preteridos se lamentando da falta de sorte.

Terminado o expediente do dia 31.12, já bem tarde, pois tudo era feito sem ajuda de computadores, a agência comemorava seu lucro obtido no ano. A viagem seria na manhã do dia 02 de janeiro.

Na manhã do dia 02 de janeiro a festa estava pronta na entrada dos fundos da agência. Os três colegas com o sorriso de orelha a orelha, engravatados, posando para o fotógrafo junto com um malote pesadíssimo. Canta-se o hino nacional e tudo. Nisso chega o carro de praça que levaria os três com o lucro para Fortaleza. Os outros novatos só se lamentando da falta de sorte. Os três escolhidos quase não dando conta de levantar o malote embarcam no carro e iniciam a viagem. Entramos na agência para o primeiro dia útil de trabalho. Não demora 10 minutos e o motorista retorna com os três alegando que faltava um documento comprovando o teor da remessa. Todos foram para a porta da agência, inclusive o fotógrafo. O gerente alega que o lacre do malote estava violado e que poderia ter sumido dinheiro. Foi um Deus nos acuda. Os colegas responsáveis pela guarda do malote durante a viagem ficam aterrorizados. O gerente pede para abrir o malote ali mesmo na rua.

Quando o malote é aberto o desespero dos três se mistura com as gargalhadas dos veteranos. O malote estava recheado de pedra e areia. Foi aí que os três se deram conta que tinham caído noutra cilada dos funcionários antigos. Nessa hora eu agradeci por não ter sido um dos escolhidos. O pior de tudo foi ter essas fotos estampadas no quadro de avisos da agência por um bom período. A gozação não ficou restrita ao ambiente da agência.

Que saudades eu tenho do BB que conheci como uma mãe e se tornou uma madrasta a partir do dia primeiro de janeiro de 1990.



Gilvan Rebouças,

Matr. 5.529.063-9

domingo, 20 de junho de 2010

Complacência Mineira

Isa Musa de Noronha

A hospitalidade mineira é uma tradição que supera os limites da complacência ou, quem sabe? Supera as raias da paciência. Esta é uma história real. Os nomes foram cuidadosamente camuflados para, mineiramente, não ferir susceptibilidades.

xxx

Entre desconfiado e aborrecido, o janota chegou à cidadezinha para tomar posse como Gerente do Banco do Brasil na agência local. Eram três horas de uma tarde de janeiro, por volta de 1957, e o sol tornava as ruas poeirentas insuportáveis. Chegando ao Banco, apresentou-se ao pessoal sendo cercado das boas-vindas gerais: tapinhas nas costas, cafezinho e a pergunta:

- Já arrumou acomodação?

- Não procurei ainda. Sabe como é. Vim ver se alguém me indica qualquer coisa para alugar e só depois vou trazer a família.

- Ah, faz o seguinte. Vamos lá para casa, descansar, tomar um bom banho, pegar uma bóia da vovó e depois o Gerente se arranja!



A casa da avó não era só “a casa da avó”. Tinha a esposa do solícito colega, a tia velha entrevada, quatro filhos, duas empregadas daquelas que ficam no emprego quarenta anos, um cão vadio, um papagaio bobagento, três canarinhos chapinha e um sabiá-laranjeira. Uma grande casa, dessas que não se vê mais. Alta no pé direito, janelas compridas, gelosia, alpendre com o tradicional banco de madeira, típico de estações ferroviárias, passadeira cobrindo a tábua corrida larga, cheirando a cera. Na sala, o relógio de carrilhão, de quina na parede, o piano antigo, poltrona cômoda junto ao rádio que ocupa lugar de destaque. O corredor comprido, quartos lado a lado e o de banho, com banheira de louça azul. O Gerente tomou banho. A toalha quentinha, passada a ferro de brasas para amaciar, o sabão cheiroso, na banheira a água na temperatura certa. De chinelos e roupão desceu para sala, entrou pela cozinha destampando panelas...

- Ah! Um franguinho ensopado! Quanto tempo não como uma coisa assim tão cheirosa, tão apetitosa!

- Sinhô gosta? Pois é. É do quintal mesmo. Criamos o infeliz desde pinto e só com milho e pasto!

Janta vai e vem conversa, cafezinho para boca de pito, noite vindo e o Gerente não se mexe na cadeira. A mãe bota os filhos para dormir, a tia velha se escora sem esconder bocejo e a avó disfarça. Sai de fininho para arrumar a cama de hóspede.

- É... Acho mesmo que o melhor é a gente ir dormir. Hoje nosso Gerente se ajeita por aqui mesmo. A casa é modesta, mas decente. Amanhã é outro dia.

- Estou mesmo com sono. Esta comidinha boa e este sossego e lua do interior me deram uma lombeira do cão.

Lá pelas dez da manhã nosso sossegado hóspede aparece para o café. Biscoito frito, brevidades, broa de milho, leite da roça.

- Tenho aqui umas camisas, uma calça precisando lavar. Será que a senhora pode pedir para Dona Maria?


- Não se incomode! O senhor deixe em cima da cama que nós providenciamos tudo!

O Gerente saiu à rua e só voltou lá pelo meio-dia. Suado, batendo a poeira do sapato ao degrau da casa.

- Eta calor danado!

- Vá se lavar que já agorinha pomos a bóia.

E assim foi. Dia a dia, mês de janeiro correu, fevereiro foi de galope e só em abril chega a família. O Gerente foi esperar na estação e às cinco da tarde aparecia a composição na plataforma. Chegando em casa...

- Aqui estamos minha querida! Essa gente maravilhosa me deu todo apoio e pousada este tempo inteiro!

A avó teve que segurar-se à parede. Junto a uma mulher beirando os trinta anos entraram sete guris em escadinha de idade. O último à barra da saia da mãe. A esta altura da coisa não havia muito a fazer. O jeito foi tocar água no feijão, cortar mais uns tomates, aprontar mais couve, botar umas batatas no fogo. Eram tempos difíceis. Não que faltasse a comida. Mas, naquela época, naquele fundão de Minas, se não dependia do poder do dinheiro, dependia de ter o que se comprar. E quase não tinha. A criançada dava dó. Empoeirados da s horas passadas no trem e com os olhinhos arregalados de quem estranha tudo. A avó, de coração mole como suas pernas, nem pensou para dizer...

- Maria! Ferve a água. Vamos arrumar um banho para esta meninada!

A preta Maria sai resmungando... “pois sim. Oito banhos e quantas toalhas? Tanta água... Arre!” Banhos tomados, meninos de roupas trocadas, descem para o jantar. A avó e Maria na cozinha preparavam o tutu, cortavam ovos em rodelinhas caprichosas, picavam a lingüiça para render mais, arroz fumegando na panela de pedra, o lombo corado na frigideira e a preocupação...

- Meu Deus! Será que eles vão reparar?

Não repararam. Comeram tudinho com voracidade infantil. Agora, como acomodar toda aquela gente?

- Sinhô Gerente... (a avó começou devagarinho...) Não tem cabimento o senhor sair daqui umas horas dessas. Por hoje vocês se ajeitam por aqui mesmo e amanhã todos vamos conhecer a casa nova... Que tal?

- A bondade da senhora não tem igual. Já arrumei mesmo a casa. Sabe como é? Os móveis chegaram agora na estação. Até descarregar e entregar na casa, colocar tudo no lugar, leva tempo.

Nem foi no outro dia, nem mesmo naquela semana. Só dias depois nossa tranqüila família tomou o rumo de casa. Pobre avó. Muito longe de tecer lamúrias por tantos dias e tanto trabalho, cismava...

- Será que eles não repararam?

xxx

Caro amigo. Isto pode acontecer com você. Quando aparecer aqui em Minas e precisar de pousada, pode entrar. É só não reparar...

Isa Musa de Noronha

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Gente boa!

No início da década de 70, ganhei numa rifa de um clube, uma motoneta "Xispa", da marca Lambretta.
Por desorganização o clube não tinha nota fiscal, nem emplacado o prêmio, apenas me deram o prêmio, assim, sem nada de papel, nem recibo! Ficaram só com a cautela premiada!
Pois bem, fui à Delegacia, com a Lambreta, e contei o causo ao delegado que de pronto disse:
-Vamos emplacar prá ti! Vocs são gente boa do Banco do Brasil! Aqui em Santo Augusto (RS) quem manda é a Prefeitura, o Banco do Brasil e o Padre!
E assim foi. Emplacada sem papel algum, e tempos depois vendida e re-vendida até o final de sua vida útil!

Paulo Beno Goellner
matr. 8.062.970-9
aposentado BB Carazinho (RS)

sábado, 12 de junho de 2010

Velhas Máquinas

Isa Musa de Noronha



Em 1982 fui trabalhar na Administração do Edifício da Agência Centro Belo Horizonte. Lidava com móveis, utensílios, máquinas e até zelava pelos revólveres da vigilância. Sim. Houve um tempo em que os vigilantes eram do quadro próprio do BB. Logo no meu segundo dia aconteceu um acidente no Depósito de Móveis e Utensílios – o DMU. A agência havia substituído as velhas máquinas autenticadoras Burroughs pelas então modernas, autenticadoras Sharp. Aguardando ordem para a destinação do maquinário usado, essas foram colocadas em uma velha estante de aço, tão velhas (ou mais) do que as próprias máquinas. Quem as conheceu sabe: eram pesadíssimas. E não é que a estante veio abaixo e com elas todas as Burroughs? Pois coube a mim narrar o fato à Direção Geral, DEMAC e dar início à baixa no inventário da agênc ia. Muito serelepe e contrariando todas as normas da CIC COMUNICAÇÕES, fiz o comunicado em versos. Levei bronca da Gerência com direito a anotação restritiva em fé-de-ofício, mas recebi um memorando da vetusta Direção Geral elogiando a criatividade.

E foi assim que escrevi:

Ao
DEPARTAMENTO DE MATERIAL E SERVIÇOS GRÁFICOS – DEMAG
Divisão de Compras de Material – DICOM
Rio de Janeiro – RJ

Sr. Chefe,

E afinal a estante caiu.
Não suportou o peso
Tamanha sobrecarga
E veio ao chão
E com ela as máquinas.
Vinte e duas
Velhas aposentadas
Que autenticaram antes
Tantos papeizinhos tolos,
Míseros cruzeiros
Ou volumosas somas.
Pagaram auxílio funerário,
Converteram em espécie
Poucos dias de férias,
Abonos, PIS, PASEP
E o derradeiro FGTS.
A estante não poderia suportar.
Trazem as velhas autenticadoras
A dor comum de todos aqueles
Que no batel da vida
São afastados, empilhados,
Substituídos por outros,
Tão jovens – por isso tão leves.
Tão jovens – então melhores.
De quem é a culpa afinal?
Quem é o culpado
Do afastamento sumário,
Do expurgo primário,
Do exílio completo
De tudo que fica
Para o passado,
De todos aqueles que tanto
Serviram e hoje
Não servem mais?
Velhas máquinas de carne
Movidas a suor no trabalho,
Pago a preço bem pago
(mas não tanto)
Um dia seremos todos
Empilhados em qualquer
Estante de esquecimento.
Quem há de assegurar
Que não vão ruir também
Nossos sonhos
Esperanças
E planos?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

PC bom de bola

Boas relembranças sempre são bem vindas. Muitos jacobinenses ainda guardam em mente os “bábas” no Campinho “soçaite” da Associação Atlética Banco do Brasil-AABB de Jacobina (BA), nas décadas de 1970 a 1990, principalmente. Os “rachas” dispensavam comentários. Aliás, serviam de registros antes e depois daqueles eventos de final de semana. Concorridos além dos limites; aos sábados, duas horas antes da bola rolar, a lista - para três times - já excedia em muito. E no período de dezembro a março é que o “bicho pegava”, pois, funcionários que já haviam trabalhado na Agência do BB (Jacobina-BA), ou filhos da Terra que moravam em outras localidades e, naquela época, ali se encontravam de férias, engrossavam mais ainda a concorrência.
E não era só de “peladeiros” que enchia o clube: torcedores, freqüentadores, “biriteiros” e outros admiradores do esporte se amontoavam sob a sombra das grandes árvores que margeavam uma das laterais do campo e sob o efeito de boas goladas de “loirinhas” e “branquinhas” atiçavam os participantes.
Pois bem! Em 1982, era diretor esportivo do clube Amilton Vasconcelos. Também jogava, organizava, comentava, criticava e fazia enrola em campo como ninguém; catimbeiro igual não se conhecia. Se no desenrolar de um jogo-treino as coisas desandassem para o lado dele, era o bastante para se enervar; qualquer lance que ele considerasse desfavorável ao seu time, apanhava a bola, colocava debaixo do braço, partia para cima do juiz e debulhava todos os códigos esportivos perante aquele voluntário. Muito conhecedor de regras de futebol e por esse atributo ninguém se atrevia a argumentar com ele, muito menos a expulsá-lo de campo. Profundamente apaixonado por futebol, acompanhava – pela imprensa falada, escrita e televisada - todas as movimentações desse esporte. Sabia de todas as transações entre clubes; da ficha completa de qualquer jogador, estivesse esse no Brasil ou exterior. E, se não bastasse, em quase todas as suas comparações sempre aparecia uma bola, uma jogada desse ou daquele atleta. Aliás, nas suas redações, nem costumava pingar os “is”: fazia-lhes bolinhas ao invés dos gramaticais pontinhos ou pinguinhos.
Num daqueles sábados, tudo se repetiu como dantes: lista completa, times escolhidos, cara ou coroa para escolha dos lados do campo; torcida presente, etc.
No time de Miltinho, apelido de Amilton Vasconcelos, ficou Antônio Carlos, também conhecido por Paulo César, ou simplesmente PC. Assim carinhosamente chamado pelos colegas e amigos pelas suas semelhanças físicas - e somente físicas - a Paulo César (Caju) aquele mesmo que jogou no Flamengo, Botafogo, Seleção Brasileira, etc.
PC, recém empossado no Banco do Brasil, ainda calouro, obedecia a tudo e a todos. Se lhe mandassem buscar a ”máquina de procurar diferenças” em qualquer banco da concorrência, o novato funcionário não se fazia rogado; nem era preciso cuspir no chão, pois, célere como um raio, superaria todos os prazos ou tempos de espera.
Compondo o outro time ficou Edvaldo Oliveira, conhecido com muita intimidade por “Coelho”; filho da Terra – nascido no Povoado de Junco, no termo de Jacobina e, na ocasião, trabalhava no BB-Agência em Quirinópolis (GO); “peladeiro” inveterado. De férias em Jacobina, veio participar do costumeiro ritual esportivo; rever colegas, amigos e tomar uns “gorózinhos”. Oportunidade essa em que unia o útil ao agradável.
Tudo pronto para o semanal amistoso. Mas, antes do pontapé inicial Miltinho chama PC à parte e cochicha-lhe ao ouvido uma difícil missão técnico-tática:
-PC, você vai marcar “Coelho”; sua única função vai ser essa. Cole nele; não o deixe andar; para onde ele for você vai atrás. Não quero que você faça outra coisa em campo a não ser isso, entendeu?
PC mais do que concentrado ouviu as determinações do “professor”, e fez um sinal afirmativo com a cabeça. Nada mais.
A bola rolou e o ritmo de jogo era tão acelerado que parecia final de Copa do Mundo entre duas seleções bem rivais. Ninguém queria perder para não amargar o tempo de espera no time de fora.
O atleta Edvaldo (Coelho), a quem o Miltinho incumbiu PC de marcar, jogava no ataque e costumava fazer gols. Meio arisco e nos primeiros minutos dava canseira aos seus marcadores. Pior é que PC não tinha nada de intimidade com bola; não levava jeito para futebol, apenas gostava. Era aquele chamado de “atleta” de fim de semana; resultado era o que menos lhe interessava; dar umas carreirinhas atrás da bola, seguindo-se de uns mergulhos na piscina; uma cervejinha e completava sua programação semanal. Acredita-se que já nos primeiros minutos de jogo PC já se arrependera de ter aceitado a tal incumbência, mesmo assim, alheio aquele tipo de responsabilidade, naquela oportunidade, queria mesmo era se divertir. Até por que seu ego transbordava de alegria, não bastasse achar-se recém empossado no Banco do Brasil e também está pisando aquele lindo e macio gramado - naquela ocasião -, tão cobiçado pela massa desportiva da microrregião.
“Coelho” costumava correr pela direita em alta velocidade e quando apanhava a bola no meio do campo partia para cima de PC; cortava para direita, esquerda; entortava-lhe tudo: pescoço, coluna, pernas. Era um vexame para aquele defensor. O suor encharcava-lhe a camisa, o corpo todo. A falta de preparo físico deixava-lhe numa tremedeira só.
Em poucos minutos de jogo, o time de “Coelho” já despejava um rosário de gols sobre o time de Miltinho e a maioria dos lances mortais saíra pelo lado esquerdo, onde atuava PC. Era um massacre sem limites. Volta e meia Miltinho colocava as mãos na cintura; e mentalmente interrogava a si mesmo sobre o desastroso e adverso escore. Não estava acostumado a placares adversos, muito menos elásticos. Respirava fundo. Olhava discretamente para PC. Meneava negativamente a cabeça e não lhe achegava uma mudança tática ou técnica que evitasse ou minimizasse a tragédia que os seus olhos presenciavam. Odiava perder um “bába”; treino ou amistoso para ele valia ponto, como se jogo oficial fosse. Garra não lhe faltava, fosse ao começo ou final de partida. Atleta outrora refinado, e para ele, - pela experiência adquirida no Leader Esporte Clube e Selecionado Jacobinense de Futebol - aquilo era vergonhoso. A bagagem técnica e a vivência em grandes decisões esportivas não foram suficientes para livrá-lo daquela vexatória situação. Fora, de fato, traído pela sorte na escolha dos participantes. Quando viu aquele jovem franzino, canhoto, “batendo na bola” com aparente intimidade, mentalizou positivo. Puro engano. O tal atleta pregou-lhe uma caçoada. Tudo que previu - liquidar o time adversário nos primeiros minutos de jogo,ocorria contrariamente. E pior, não havia tempo para mais nada, agora era suportar a “caqueirada” de gols e se preparar para gozação no final.
Com tudo isso, a bola rolava sem cessar, e a certa altura do jogo, “Coelho” que gastava todo o “gás” no início do jogo, já se esquivava pelas laterais do campo em busca de um pouquinho de sombra e tentando fugir da “implacável marcação” do PC. Num dado momento, o atacante “Coelho” deu com o olho, na beira do campo, em um grande amigo que há muito não via. E mesmo com o jogo em andamento, foi apertar a mão do companheiro e lá se deteve por alguns segundos, até para respirar um pouco. E o PC na cola. Mas, como o jogo não parava por nada, o time de “Coelho” – infinitamente superior ao de Miltinho – continuava em sucessivos contra-ataques mortais; era um bate e rebate na área sem alívio. Miltinho desesperado procurava PC em todos os espaços do campo, mas não o encontrava. E pensava: já não bastava a goleada que o seu time estava sofrendo e, ainda assim, o seu jogador de “confiança” lhe deixara na mão e naquele instante desapareceu do jogo e do campo. Não se conteve, agarrou a bola com as mãos e segurou. Com o olhar muito rápido percorreu os quatro cantos e foi localizar PC, em pé, na lateral do campo, onde também se achava o “Coelho”.
Miltinho esbravejou:
-O que está fazendo aí, PC!?
Paulo César sem nenhuma hesitação e muito calmamente respondeu:
-Estou marcando o “Coelho”...
Miltinho mudou de cor. Se já estava preto de raiva, ficou pior ainda. Arregalou os olhos para cima do PC e contestou:
-Mas, a bola está em jogo, PC. Nosso time perde... e de muito...
E PC, com mais descontração, respondeu:
-Antes de começar o jogo, você disse que era para eu marcar o “Coelho”; que não desse espaço a ele; que para onde ele fosse eu o acompanhasse; não o perdesse de vista... Exatamente estou cumprindo as suas orientações técnicas. Ele veio falar com um seu amigo e eu estou colado com ele; quando ele voltar para o jogo, eu volto junto. Não foi isso que você me determinou?
Miltinho entalou; “cuspiu marimbondos”, tal a sua ira; sacudia a cabeça que nem boi enfezado; se até aquele momento não conseguiu entender a razão daquela maiúscula goleada, aquela atitude de PC mostrava-lhe o efeito da causa. Imaginava consigo mesmo: já que não tem intimidade com bola, por que não fica ligado nas brechas que lhe abrem os adversários. Miltinho, esperto como poucos, enxergava que exatamente naquela oportunidade em que o “Coelho” estava na beira do campo conversando com o amigo, era chegada a hora de partir para cima do time dele e, quem sabe, diminuir o placar. Assim ele pensava, mas o PC não estava nem um pouco sintonizado, queria apenas participar, ou simplesmente seguir à risca as orientações recebidas. Se ele, Miltinho, disse que era para colar no “Coelho”, não desse espaço, etc. Exatamente isso que estava fazendo. Nas instruções recebidas só constava apenas que era para marcar o “Coelho” e nada mais. Por isso estava seguindo à risca.
O calvário de Miltinho terminou com o apito final. Emburrado, passou de passagem para o chuveiro; não deu entrevistas; nem fez comentários. Molhou a cabeça, aportou numa mesa e se deliciou com uma cerveja gelada, – outra de suas paixões - para refletir sobre suas recomendações táticas. Por fim, chegou à conclusão que, de fato, se enganou ao exigir tanto de quem ainda não conhecia as “potencialidades”. Primeiro conhecer para depois pedir.
E mais esperto ficou para não contabilizar esses tipos de insucessos em sua vida desportiva.

Carlos PROCÓPIO Dias da Cruz
Jacobina-BA, 2003-08-02

terça-feira, 8 de junho de 2010

Eu sei que vou te amar

Um dia eu escevi minha "declaração de amor" ao BB. Vejam

Isa Musa de Noronha

Quando você pergunta qual é o maior banco do Brasil você já disse o nome dele. Pois foi esse o slogan que eu criei lá pelos idos 1970, quando ingressei no BB. Menina pobre do interior, em minha cidade só havia duas oportunidades de emprego: a velha RMV, ser ferroviária como meus avós, tias e meu pai ou ser professora. Eu caminhava lentamente para as duas opções. Amo a ferrovia. Para mim, até hoje é sinônimo de saudade e boas lembranças. Amo o Magistério! A oportunidade única de aprender enquanto se ensina. Mas, a vida cobrava saltos maiores e eis que me inscrevi no concurso para o Banco do Brasil. Até então, o BB sisudo, só permitia homens e a abertura para as mulheres foi um grande avanço para todas nós. E lá vou eu, de livro de matemática em punho estudar com um tio, velho funcionário do BB e cobra criada em contabilidade e rotinas bancárias. O dia da pro va foi uma angustia só. Suava frio. Na prova de datilografia meus dedos pareciam sofrer de artrose, mercê da emoção. Passei! Em casa foi uma festa só. Antigamente, meus amigos, os pais sonhavam que o filho fosse: médico, engenheiro ou funcionário do Banco do Brasil e ali estava eu! Funcionária do Banco do Brasil! Imaginem vocês que na agência onde tomei posse sequer existia um banheiro privativo para as mulheres. Éramos poucas e definitivamente o Banco não estava preparado para nós. Nossas roupas chamavam atenção destoando da indumentária padrão BB: calça social, camisa de manga comprida e gravata! E nós? Sem nada ainda previsto na CIC FUNCI, lá estávamos de vestido tubinho, sem mangas às vezes, ou blusa e saia godê, na altura dos joelhos. Um escândalo. Pior era a cara das esposas dos colegas... “Esse negócio de mulher o Banco não vai dar certo”, diziam algumas enciumadas. E nós nos pintávamos, passávamos perfume, usávamos brinc os, laços, pulseiras, todas coloridas, alegres, joviais e bem vestidas até que um dia... Não é que uma cautelosa esposa de gerente decidiu interferir na CIC e sugerir ao maridão que nós usássemos uniforme? Pois foi! Com menos de um mês lá estávamos todas nós de “terninho”, de tergal (quente como o quê), cinza chumbo, com uma blusa palha. Tenho ainda a foto! Viramos aquela coisa padrão... Sem adorno, sem agrado e logo éramos motivo de gozação. Alguns colegas mais engraçadinhos diziam que: quando nasce filha mulher, o pai pergunta: você quer ser bonita ou funcionária do Banco do Brasil? Felizmente a história do uniforme não durou muito, pois nem nos colégios tradicionais era mais obrigatório. Aos poucos, à meninada dos colégios foi permitido o uso de calças jeans e assim também no BB, cujo lema era: “Tradição que se moderniza”, a CIC liberou geral, desde que a roupa fosse decente. Com isso voltamos a ser figurinos apetitosos, muitas de nós arrumamos casamento com colega (dobrando o VP e a Licença prêmio), fossos amantes, fomos traídas, fomos cantadas, conquistadas e muitas de nós jamais tiveram outro “casamento”... Muitas de nós nos casamos com o BB: fizemos carreira, viramos gerente, supervisoras e até Superintendentes. Hoje são muitas as mulheres no Banco. Algumas até na Diretoria! E iremos mais longe, nos aguardem!

Isa Musa de Noronha - 30/09/2008 - 09:43