quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Histórias que me custam contar - final

Henrique Augusto Carvalho Soares

Segundo semestre de 1990, por conta da Síndrome do Pânico e do desconforto em não enteder muito bem as regras dos poderosos, eu encontrava-me perdido. Por prazer, exercia o que acreditava ter de melhor, a compaixão. Eu fui por diversas vezes, sem perceber, uma espécie de intermediário entre pedidos, indicações, frustrações e êxitos. Minha cabeça imatura creditava ao bom senso e ao bem querer a forma amável com que me tratavam. Minha cabeça imatura creditava à imaturidade daqueles que me tratavam como um opositor, Mauricinho ou coisa parecida. Pude perceber a aversão por parte da comunidade masculina jovem aos Funcis do BB, que sob sua ótica, eram ricos, metidos a besta ou coisa parecida. Tenho consciência que tive a capacidade de desmistificar muito isso. Fiz programa de Rádio, abri uma loja de discos, e no que podia ajudava a comunidade. Tenho amigos até hoje que me ligam de lá. Mas quase nunca falam do Banco e, quando falam é pra dizer que a Agência já não é a mesma daquela época, reduziram em 80% o número de funcis. A propósito, encontrei recentemente o Colega, Sebastião, que foi meu Chefe no SETIN e que com os olhos marejados falou-me de sua "demissão", em face de ter se recusado a ser transferido. No final daquele ano, mais uma "boa notícia", meu sogro havia sido nomeado Superintendente Regional. A mesma festa chata entre parabéns sussurrados e eu a me questionar qual era o meu papel naquilo tudo. Perdi a identidade ou ainda não assumir o Banco do Brasil. Alguma coisa não estava batendo muito bem. Achei que já era a hora de voltar pra minha terra natal, São Luís. Solicitei transferência, fui atendido. Recebi a notícia que assumiria na Agência Pedro II, que seria inaugurada no dia 20.03.91. Eu e Dona Mônica chegávamos como Caixa Efetivo. A Superintendencia ocupava o segundo e terceiro andar daquele mesmo prédio. Apesar de já saber muito da vida do Funcionário Brandão (Superintendente) e como ficaria uns três meses hospedado em sua casa, tratei de prestar mais atenção em como ele via o BB no seu todo, bem como conhecer sua trajetória. Concluí que ali estava um homem íntegro, honesto, dedicado, ambicioso e apaixonado pelo BB. Fiquei orgulhoso e triste. Eu não sentia o mesmo. Minha ligação com o Sindicato, minha língua solta nas reuniões, meus rompantes, nunca foram aplaudidos, nunca foram retrucados, isso hoje eu acho simples de entender. Meados de 1991, as coisas começam a mudar. Como num filme de suspense envolvendo "poderes maiores", recheado de encenações, traíragem e política. Meu Sogro, numa manhã de segunda feira ao chegar para o trabalho e abrir a porta de sua Sala, depara-se com o Sr. Dorian Riker Teles de Menezes ocupando aquele lugar. O Sr Dorian era o mesmo que ha 15 dias atrás adentrava aquela mesma sala em choro compulsivo pedindo para o Sr Brandão interceder a quem preciso fosse afim de suspender seu processo de Aposentadoria, pois ele não estava aguentando... Em meio a sessões de Psicanálises e injestões de Calmantes que quase nada adiantavam eu me perdia muito mais, não só sofria, como somatizava também a dor do meu próximo mais próximo. Será que quem me falou maravilhas de tudo isso aqui, mentiu pra mim? Não, não mentiram. Só tinham visão diferente da minha. Eu era muito grande pro Banco e o BB era muito grande pra mim. Resolvi prestar Vestibular para Psicologia na Universidade Federal, fui aprovado, fiquei Super feliz. Ao contrário de outras vezes, agora sim eu esperava pelos parabéns, mas eles não vieram. Eu já não era mais genro do Superintendente. Por outro lado eu podia suspirar aliviado e quem sabe me livrar do estigma dos rótulos a mim apregoados. Mas a mudança por mim observada foi um tanto demais. Perdi a efetividade no Caixa, perdi as deferências sempre tão singelas em minha direção e ganhei cobrança e pressão de todas as ordens (Não me sinto a vontade no momento para expô-las aqui). Como não me cabia, não me cabe, não me caberá o papel da indiferênça diante das injustiças, tudo aquilo, toda aquela mudança repentina veio desencadear uma revolta interior muito grande. Tudo era uma avalanche enorme na minha cabeça. Os dissídios, os abonos salariais, os cala bocas, as festas promovidas pela cúpula envenenando meus colegas com a ilusão de que aquilo era bom. O Pânico tomava proporções avassaladoras. Auto internações, medicamentos, sessões psicanalíticas e o que pior, meus familiares olhavam com desconfiança esse redemoinho da minha vida. Entre Licenças e voltas, chegamos a 1997. Veio a então separação de minha esposa, colega de Banco e um tanto avessa aos meus sonhos devaneados. Funcionária competente, dedicada. Meus filhos, Tiago e Daniel, razões do meu viver, trataram mesmo muitos pequeninos, de me fazer entender que meu papel de Pai não se dissolvia como minha relação com sua Mãe. E ela sabiamente até hoje não abre mão de meu papel responsável de Pai. Papel no qual me esfor;co para cumprir com amor, muito amor. Era junho de 1997, segui até a mesa do meu Gerente, João Parente Timbó, fui no intuito de pedir demissão, mas sabia que ali eu queria mesmo era um socorro. Ouvi dele: "Henrique, você precisa de uma licença. Falei com o Chefe da Cassi e ele está te aguardando", Em meio a lágrimas agradeci e fiz o que ele me sugeria. Na CASSI, fui atendido. Passei então a navegar na gangora da Ansiedade Transtornada. Perícias, perícias, perícias... Encontrei por acaso o Dedé (Aquele do PAVAN), ele convidara-me a voltar pro BB, e dessa vez na sua AGÊNCIA (REVIVER). Puxa, fiquei feliz. Marquei consulta com meu Médico e lhe relatei o fato, eu queria voltar. Como num rompante, este levantou-se e desferiu: "Você volta e eu deixo de ser seu Médico. Por acaso não vês que o BB não precisa de ti, que o BB é teu mais forte Agente Desencadeador de crises?. Fiquei impávido, tantos filmes começaram a passar em mim, tantas perdas, tantas frustrações. Sentir-me fraco, sem rumo. Pensava: Sou tão novo, e agora? Peguei uma mala, um vídeo cassete, algumas fitas e dirige-me pra uma Clínica Psiquiátrica, pedi internação. Depois do terceiro dia ali, meu Médico Psiquiatra (O mesmo) adentrou meu quarto e questionou-me o que significava aquilo. Respondi que não sabia, mas que quando soubesse eu pediria alta. Ele num largo Sorriso aconselhou-me a levar meu curso na Universidade a sério para poder ajudá-lo. Claro que isso era mais que uma força que ele queria me dar, era mais um exercício de gentileza. 1999, numa tarde de um dia qualquer, minha mãe juntamente com meu irmão e Minha saudosa Mãedindinha entram no meu quarto e em meio a lágrimas seguido pelo um pedido de desculpa por ter aberto uma correspondência endereçada a mim, entrega-me uma Carta de Concessão de Aposentadoria (INSS). Meu olhar fitou o não sei o que, enquanto minha Mãe, meu irmãoi e minha Vó festejavam. Talvez por altruísmo, sei lá, até hoje não perguntei o que eles comemoravam. Foi também uma festa que não entendi. Mergulhei no poço que ecoava o "já deu". Estourei Cheque Especial, cartão de crédito, Cooperforte, não recebi o seguro prometido pela AAFBB, não ingressei em nenhuma ação na ANABB,
passei a odiar aquele logotipo BB e até as cores azul e amarelo. Mas o tempo passou, eu fui me recuperando, tratei de conservar o que tenho de mais valioso. A Compaixão é minha companheira, a consciência dos meus passos errados não fazem de mim um sofredor. Hoje, por um acaso cheguei a AAPREVI, antagonicamente fiquei feliz ao ver tão poucos seguidores, e pensei como o poeta "Tudo azul, todo mundo nu. No Brasil sol de norte a sul, Tudo bem, tudo zen, meu bem, Tudo sem força e direção. Nós somos muitos, não somos fracos, Somos sozinhos nessa multidão. Nós somos só um coração, Sangrando pelo sonho de viver". E assim com nossas vitórias que sabe eu desfrute de um prazer que nunca eu tive de usufruir: Abrir meu espelho. Desculpem pelas vezes que me perdi, desculpem meu português ruim, mas aceitem minha sinceridade como pre requisito para estar aqui. Abraços.

Henrique Augusto Carvalho Soares

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Histórias que me custam contar

(Henrique Augusto Carvalho Soares)

Dia 09 de fevereiro de 1988, eu tomava posse no BB na cidade de Pedreiras MA. Fiquei um tanto assustado quando adentrei ä Agência e manifestar meu desejo de falar com o Gerente, Sr. Gonçalo Pereira Alves, fui quase advertido por um funcionário, Chagas, a questionar-me do que se tratava, porque se fosse pra tomar posse que eu falasse com um outro funci, Cavalcante, Mas eu insisti, uma vez que obedecia recomendações de meu Sogro, José de Ribamar Ribeiro Brandão (Chefe de Setor da Super Regional), para eu falar primeiramente com o Gerente, pois o mesmo me aguardava. Ufa, consegui, Na minha imaturidade cheguei a pensar que algo de muito importante eu carregava comigo, pois depois fiquei sabendo de que existia uma "Regra" que o Sr, Gonçalo não falava com PE. Ao me apresentar, ele soltou um largo sorriso e abrindo uma gaveta colocou em minhas mãos um molho de chave, dizendo: Essa é sua casa, fica na Vila dos Bancários e o que será descontado em sua folha é um valor irrisório. Puxa, fiquei muito feliz, Agora só alguns minutos separavam-me do meu objetivo maior: Assinar os papéis da CASSI, que iriam tirar o peso da preocupação de ver meu filhinho Tiago, nascer com toda assistência que tanto me preocupava não poder ofertá-lo. Dona Mônica, também tinha logrado êxito no Concurso para o BB, mas em face de estar grávida, não podia assumir ainda. Tudo se passava quase normalmente, quando comecei a ver ao meu redor uma certa divisão nos tratamentos. Um lado me babava todo, e o outro me olhava de canto de olho. E eu? - Fiquei um tanto desnorteado, perdido em meus valores de essência e adquiridos com meus Pais. A realidade cobrava-me atitudes de cumpridor de meu dever assumido e rebeldia imposta pela falange dos sufocados. Sem querer percebi que não me tornava colega de ninguém, mas amigo. Fui chefe substituto do Tesoureiro com poucos meses de Banco, e eu ria de tudo aquilo. Eu não me encontrava, não estava preparado. Ao invés de ficar inebriado de orgulho e agradecer aos Céus, eu me perguntava: O que é isso? - Comecei a desconfiar de mim, do meu super carisma, do meu gosto musical, do meu jeito espirituoso de ser. Até que em busca de respostas para aquela situação veio algumas certezas que perduram até hoje. Meu então sogro era Chefe de Setor Super Regional, meu tio, Elisabeto Carvalho Soares, Chefe, sei lá, da Compensação Nacional, meu Pai, José Anastácio Carvalho Soares, chefe no CESEC. PQP, a cúpula daquela agência queria que eu fosse alguma coisa urgentemente, e eu automaticamente, propositadamente não respondia aos comandos. Virei delegado sindical, resolvi não ser alvo de porcaria nenhuma. Entendi que não havia ali, nem quem me amasse e muito menos me odiasse. É verdade que o esforço era enorme pra não ver as bajulações e jogadas de ombros em minha direção. E, eu ia resistindo. Mas de alguma de alguma forma um ser 100% emocional como eu ainda se abalava, muito mais com quem o retaliava. O meu desempenho como Delegado Sindical foi o maior triunfo mara meus supostos opositores. Foi como se eles gritassem mudos: Seus babacas, babões, ele é um dos nossos. Fiquei feliz, confesso! Fui melhor na Vice Presidência Social da AABB, do que no guichê do Caixa. Tentei combater idéias esdrúxulas, mas senti que estava avançando sinais, estava misturando as coisas, certas coisas ou não me diziam respeito, ou eu nada poderia fazer para mudá-las, A babação ainda me incomodava. Fui mandado para prestar serviço no PAVAN de Joselândia (reforçar meu caixa). Eram eu e dois colegas, José Medeiros Sobrinho (Ainda na ativa) e o saudoso Bento Almeida Rocha. Mesmo em sendo só nós três, o ciúme ou sede de justiça por parte do meu colega Bentinho veio a tona, Então um dia ao cair da tarde tomando uma cerveja, ele me fitou os olhos e falou: Mago véio, eu sou Caixa a tantos anos e tu entrou ha pouco mais de um ano no Banco, porque então não sou eu o Caixa do PAVAN? Eu o fitei de volta, abasteci nossos copos e vi ali um homem indignado, enojado e triste, assim como eu. Era dia 06 de outubro de 1989, sexta feira, estávamos voltando para Pedreiras naquele Jipe que pulava mais que pipoca. Era uma estrada de chão duro e cheia de buracos. Por volta das 15.00h, sensações estranhas, desesperadoras, inomináveis começaram a tomar conta de mim. Lembro que em meio a um terrível choro compulsivo, questionava o Dedé, a dizer: Por favor Dedé, me diz o que estou sentindo? - Essa pergunta, eu já não faço a algum tempo, ela silencia diante de Ansiolíticos e Antidepressivos. Vem 1990, meu sogro é nomeado Gerente Geral da Agência Centro (S. Luís). Eu não entendi muito bem a festa feita em minha agência por aquilo. Acredite, fui dispensado do trabalho. Até uns tempos desses eu me questionava em risos o que era, o que é isso. As crises continuavam. Um dia recebendo a visita de Dona Luizinha, esposa do Gerente, Seu Zé Carlos, e em meio a mais uma crise ele adentrou a sala, virou para mim e disparou: "Henrique, vá até a Agência e diga ao seu Chefe que autorizei férias antecipadas para você. Você vai pra São Luís se tratar e quando ficar bom retorna". Eu, em meio àquele disparate, emendei: Férias antecipadas é o ca-------. Doença se trata com licença saúde. Peguei minhas coisas, um ônibus e rumei para a Capital. Fui até a Agência Centro, onde funcionava o CEASP/DEASP e falei com o Chefe Dr. Carlos de Jesus Dantas (Saudoso), que era conhecido por não gostar de conceder licença, mas comigo foi diferente, deu-me logo 90 dias e me matou mais um pouco. Retruquei: "Dr Carlos Dantas, não faça isso comigo, vou sentir muita falta de meu filho", Mas ele não titubeou e me desferiu outro golpe: "Esses 90 dias é só pra começar". Naquele momento parecia que eu era carta fora do baralho. Meus pedidos de ressarcimento eram arquivados lá em Pedreiras, minhas solicitações... Isso mesmo, ao invés de levar todas as minhas solicitações diretamente a CASSI, pensava que tal procedimento obrigatoriamente teria que passar pela Agência na qual eu era lotado. A 1000 exames investigativos me submeti, até chegar as mãos do Psiquiatra e dele ouvir o Diagnóstico: "Síndrome do Pânico". Ufa, agora já posso morrer "tranqüilo", pensei. Confesso que do início deste email chato até agora já tomei alguns cafezinhos e fumei alguns cigarros, é que tenho consciência do meu português ruim e da minha falta de vergonha. De posse da minha falta de vergonha, tento adivinhar as teclas do PC e continuar mais um pouco. Porém, afim de não se tornar cansativo, concluo esta primeira parte afirmando a minha primeira grande lição: O PODER TEM A CAPACIDADE NA MAIORIA DAS VEZES, DE RETIRAR DAS PESSOAS O QUE ELAS POSSAM TER DE MELHOR. AS PERSONALIDADES SE MULTIPLICAM NUMA COVARDIA QUASE QUE CONVICENTE AOS IMATUROS E CHEIOS DE BOA FË. Desculpa pelo email cansativo, até eu estou cansado. Mas ainda tem mais. Vem 1991. Meu sogro é nomeado Superintendente Regional.

Henrique A C Soares - matrícula 4.096.429-9
muito feliz

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O VELHOTE DO CAROÇO

Marcos, em 1979 eu consegui uma transferência e estava finalmente na minha terra natal, Guaíba (RS), de mala e cuia.

A Agência era grande e bem diferente das duas onde já tinha trabalhado, a bem da verdade na terra da gente é tudo diferente, ainda mais que a clientela é conhecida e nunca falta “Oi como vai teu pai? Como vai tua mãe?”, e isto era muito gostoso mesmo.

Para não fugir à regra, nem tudo era perfeito e a agência tinha uma deficiência em “material” feminino, o que dificultava lotar alguém na “Plataforma”.

Sendo assim a administração optou por utilizar dois rapazes, funcionários novos e até “bem apessoados” e fui um dos escolhidos. Gostou dessa? Eu hein? “Alain Delon de Guaíba!”. Que saudade! E dizer que até cabelo eu tinha!

O outro se chamava Gerson, meu amigo desde a infância e formamos uma dupla das boas.

Eu já era casado, ele quase lá e nos valemos de uma boa amizade com o gerente da CEF para conseguir um financiamento do BNH(lembra?), pois já tínhamos comprado terreno, faltando só a “verba” para a construção.

A coisa não era fácil, construía primeiro e recebia a liberação da parcela depois da vistoria do engenheiro da CEF, mas sendo a única alternativa da época, tivemos que encarar assim mesmo.

Inevitável que logo ficamos numa penúria danada e estávamos sempre jogando com o dinheiro de um e do outro. Era na base do “vendo meu carro e te empresto um pouco, mais adiante tu vende o teu e me devolve”, enfim uma verdadeira ginástica financeira.

Eis que, trabalhando na Plata, éramos os encarregados de entregar os carnês do INSS para os aposentados, pois naquele tempo nem se falava em cartão magnético.

Um belo dia recebemos um novo “produto”. Um seguro de vida para vender. Exigências poucas, coisa da época. Era só preencher os dados e nomear o beneficiário. Nunca vendemos nenhum.

Em meio ao expediente, ele atendendo aberturas de contas e eu entregando os carnês, olhei para a fila e vi um “velinho”, que tinha um “caroço” horrível bem no topo da cabeça. Coisa muito feia, sem dúvida era um tumor exposto.

Cutuquei o Gersom e disse: “Olha lá, aquele velinho do “caroço”, não dura dois meses. Vamos fazer um seguro daqueles para ele e entramos como beneficiários. É fácil e ele nem vai saber o que está assinando”!

Claro que meu companheiro (cumpanhero não, por favor) se empolgou na hora. “Bah, pagamos as contas e ainda terminamos a casa”.

Nesse conversa daqui e dali, eu atendi o velhote e o dispensei. Deixamos para o mês seguinte, dando um prazo para discutir melhor o negócio.

Foram 30 dias de planejamento intenso, armamos até uma estratégia para “aliciar” o potencial defunto. Contas de todas as formas. Sonho de vida resolvida, até carro novo pintou nos planos.

Em poucos dias eu fui mandado para a Tesou e ele ficou lá com outro colega. Não voltei mais e nosso plano foi para o espaço. Nossa riqueza ficou só no sonho, embora soubéssemos que na hora “H” não teríamos coragem de fazer, mas pelo menos valeu sonhar com os milhões.

Passou o tempo, fui embora de Guaíba e ele também. No início da década de 90 estávamos de volta, quase ao mesmo tempo.

Eu na bateria de Caixa e ele novamente na Plata.

Por ironia do destino, me coube pagar os aposentados do INSS, coisa que fazia com o maior prazer, pois realmente gostava de ver a felicidade deles pondo a mão na grana e digitando a senha com as mãos trêmulas, como se aquilo fosse a coisa mais importante de suas vidas.

Lembro de alguns, já trôpegos, que paravam na minha frente e os amigos gritavam lá da fila: “Fulano, agora põe os números, aqueles do papel”. Ô tempo bom. Saudades!

Marcos, pois não é que eu levanto a cabeça e chamo “Próximo” e quase caí do banquinho, veio de lá, mais de dez anos depois o velhote do “caroço”, firme e sorridente, com o caroço do mesmo jeito!

Olhei para a Plata e chamei o Gersom. Bastou ele levantar a cabeça e teve um ataque de riso. Eu outro. Larguei o guichê, corri para a cozinha. Cada vez que me recompunha e chegava na porta para voltar eu me deparava com o caroço do velhote e desabava outra vez. Não teve jeito, o supervisor da bateria teve que passar minha fila para o caixa ao lado.

Bem, ao menos economizamos o dinheiro do prêmio do seguro!

Ary Taunay Filho - Guaíba (RS)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

MILAGRE

Esta história, mais que todas, merece ser lida. É uma lição de vida, de sofrimentos e de fé. Principalmente do resgate da fé quase perdida. Ela me foi enviada com a seguinte recomendação:

"Marcos,

Esta é uma história que não fecha com o objetivo das histórias do teu blog, mas é uma realidade. Não conto para postar, apenas para te contar, porque já são 4 da matina e perdi o sono."

Aqui peço desculpas ao autor por não atender seu pedido. Não terei sossego se egoisticamente guardar esse segredo que não me pertence.
Marcos Cordeiro.

Eis a história:

MILAGRE


Marcos, eu deixei o BB em 95 e iniciei um negócio de distribuição de pescado.
Comprei um furgão refrigerado e aluguei um espaço numa câmara fria para depositar meus produtos.
Ao lado funcionava uma lojinha de instalação de som automotivo e alarmes, pertencente a um ex-colega de Guaíba, que havia se transferido para o Cesec Bairro Anchieta no horário noturno.
Ali eu ficava nas horas vagas, entre uma entrega de mercadoria e outra.
Um dia ele me chamou e perguntou se eu não gostaria de participar de umas ações judiciais contra a Previ, que um outro ex-colega pedevista estava promovendo.
Não me interessei, até porque acreditava na época que a Previ não me devia nada, mas o colega, Marcos Castro, seu tocaio, insistiu dizendo: “Deixa de bobagem, me dá cá teus documentos, que tiro cópia aqui no fax, assina esta procuração e deixa a coisa correr”.
Assim concordei, entreguei meus documentos e assinei a tal procuração, mas quando ele me disse que deveria deixar 50 reais para despesas, aí a coisa mudou de figura e eu não quis nem saber mais de conversa.
Logo depois meu pequeno negócio não deu certo e eu me afastei dalí perdendo o contato com o Marcos Castro.
O tempo passou e as dificuldades vieram e com muita força. Meu dinheiro acabou, emprego eu não conseguia e para ajudar ainda tive um infarto em 1998 e outro em 2000. Fiquei em petição de miséria e não fosse minha mãe e minha esposa, que vendia roupas de porta em porta, não sei o que teria acontecido comigo.
No final de 2000, depois da cirurgia de ponte de safena, consegui um emprego como gerente local de uma transportadora sediada no interior do estado e por necessidade me obrigava a carregar caixas de iogurte dentro de uma câmara fria para nossos caminhões distribuírem durante a noite.
Foi realmente uma época difícil, meu médico queria me enforcar, mas eu realmente precisava.
Infelizmente a tal transportadora fechou e o proprietário, sem dinheiro o coitado, não tendo como me pagar, me deu um carro velho por conta. Realmente um verdadeiro “caco”, mas ao menos andava, meio mal, mas andava. Era tão velho que nem IPVA pagava mais e ainda por cima a álcool o miserável, mas era o que eu tinha, fazer o que.
Foi um trabalho que durou até meados de 2002 e logo consegui ajuizar ação contra o INSS e depois de muita luta me aposentei por invalidez, mas infelizmente com um valor muito baixo, valor este que só consegui aumentar para o teto depois de uma nova ação findada em 2005.
Era pouco, mas sem poder trabalhar e juntando com os “pingados” da minha esposa, dava para ao menos não morrer de fome.
No natal de 2003 o “calhambeque” ainda estava comigo, não que eu não tivesse tentado vender, mas a verdade é que ninguém queria e eu para fazê-lo andar já estava tão “craque” em carburador, que montava e desmontava até no escuro.
No dia 24 meu sogro mandou recado convidando para a ceia em sua casa, mas lá em Canoas, uns 30 km distante e a noite ainda por cima. Será que o “veículo” chega lá? Mas, como era por uma causa nobre, resolvi arriscar.
Não deu outra! Bem no vão central da ponte móvel do Rio Guaíba o “marvado” tossiu e não teve mais jeito. Empurrei ponte abaixo e parei na beira da rua. Montei, desmontei, remontei e lá pelas 3 h da madrugada consegui fazer o infeliz funcionar.
Claro, noite de natal perdida, voltei para casa e fui dormir. Depressão total!
Passados mais alguns dias, ano novo, vida nova, mas para os outros porque a minha continuava a mesma porcaria e até pior, porque a situação apertou de um jeito, que eu não tinha nem para comer mais.
Numa situação tão crítica conversei com a esposa e decidimos fazer a única coisa possível. Vamos tentar vender o “caco” e se ninguém quiser, vamos entregar para o desmanche, que pelo menos pode dar para as compras do mês.
Então fui para o centro de Guaíba, onde morava e moro até hoje, aproveitando para dar uma passada para visitar minha irmã, advogada e dona de uma imobiliária, onde trabalha junto com o marido.
Conversando sobre a situação crítica, muito calor lá fora e matando o tempo para aproveitar o ar condicionado, meu cunhado abriu a porta da sala dele e gritou: “Teu irmão ainda tá aí? Telefone prá ele!”
Pensei, “ué, quem pode ser? Quem saberia que estou aqui?”.
Fui atender e era o Marcos Castro, meu velho colega da lojinha de som: “Ary? Homem de Deus, onde tu andas? Faz uma semana que tento te achar. Lembra daquele advogado nosso colega? Aquele da ação contra a Previ?”
Surpreso, claro que eu não lembrava, afinal se passaram oito anos e muita água correu por debaixo da ponte: “Que advogado Marcos? Que ação de Previ? Não sei de nada?”
Então ele me explicou que o tal advogado, Dr. Barreto, precisava muito falar comigo. Deu-me um número de celular e me mandou ligar. Disse que o homem estava atrás de mim já há uns dois meses, que tinha ganhado uma ação e queria me pagar.
Claro que eu não entendi nada, afinal não entrara com ação nenhuma, certamente deveria ser engano, mas então a coisa ficou clara.
O tal advogado, depois de ter entrado com várias ações em grupos de três colegas, sobraram dois e ele procurava mais um para ajuizar a última. Esteve na lojinha do Marcos e perguntou se não havia mais alguém.
- Bem, não tenho mais ninguém, mas guardei os documentos e a procuração de um amigo, mas ele não quis pagar os 50 reais. É só o que tenho.
- Tudo bem, me dá esse aí mesmo sem os 50 reais, pelo menos eu fecho o grupo e ajuízo mais uma, a última.
Foi então que entendi o que tinha acontecido. Peguei o número de celular e liguei na hora, claro que num nervosismo só, afinal era dinheiro caindo do céu e isto não é todo dia.
A boca seca, as mãos tremendo, liguei e o homem atendeu.
- “Ary? É o Ary Taunay de Guaíba?
- Sim, sou eu mesmo!
- Finalmente te achei! Preciso falar contigo. Ganhamos a ação contra a Previ e estou com teu dinheiro. Encontra-me amanhã 11 h no saguão do Banrisul da Av. Cavalhada, que assinamos os recibos e já te dou o cheque!
E a ligação caiu. Tentei, tentei várias vezes e nada. Só dava telefone fora da área de cobertura. Continuei tentando até anoitecer, mas como minha irmã tinha que fechar, desisti e fui embora.
Embarcamos no “caco”, que escapou do desmanche por muito pouco e fomos para casa.
Naquela noite não dormimos. Nervos a flor da pele, porque o principal eu não fiquei sabendo. Afinal qual o valor do cheque? A noite foi de cálculos variados. Rebusquei papéis velhos da Previ, revisei todos os meus espelhos, calculei, recalculei, mas tudo sobre conjecturas, porque nem ao menos sabia do que se tratava a ação.
Amanhecendo o dia chegamos a conclusão de que deveria ser algo em torno de 5 mil reais, o que para nós já era uma fortuna e resolvia todos os meus problemas, dava até para consertar o “caco”.
A grana era curta demais e minha irmã me emprestara 20 reais para o combustível, mas minha esposa estava muito desconfiada, pois o Marcos era muito brincalhão e estávamos com medo que fosse algum trote, daqueles de fazer o sujeito ir lá para a frente do banco e ficar sonhando com cara de otário.
Por conta disso nos precavemos e fomos mais cedo e qualquer movimento estranho era só dar no pé antes do “click” de alguma máquina fotográfica.
Mas tudo transcorreu normalmente. Deu 11 horas e nada, mais um pouco e nada. Eu tremia que nem falava mais. Então estacionou uma Blazer do outro lado da rua e desceu um sujeito alto, pasta na mão, apressado. Eu não sabia quem era, muito menos se era o tal advogado, nunca o vi e nem sabia como era.
O sujeito entrou na agência, olhou em volta e me viu ali parado.
- Tu que é o Ary?
- Sim, sou eu.
-Prazer, Luis Barreto, estou com teus documentos e o cheque, vamos indo para o caixa porque estou atrasado. Na fila tu assina o recibo.
- Não Doutor! Espera aí, só um pouquinho. Afinal, que cheque? O que eu tenho para receber?
- Mas como? Eu disse ao telefone, tu não ouviste?
Botou a mão no bolso da camisa e me deu o cheque, dobrado. Eu abri e quase tive outro infarto. Estava ali, limpo e claro : Um cheque de 81 mil reais.
Eu não falava, mal respirava. Minha mulher tremia mais que vara verde e eu louco de medo, ainda não acreditava. Cheguei ao caixa. Ele mandou botar 80% na minha conta (era o banco da minha aposentadoria) e o resto na conta dele por conta dos honorários.
Eu ainda não acreditava. Tinha que ver as notas, então pedi 5 mil em dinheiro e a funcionária me deu. Era real, era verdade!
Assinei os papéis e ele foi embora.
Para ficar finalmente convencido, corri para o caixa eletrônico, saquei mais 1 mil reais e tirei extrato. Estava lá, tudinho na minha conta, aquele monte de números.
Amigo Marcos, se a minha fé em Deus estava em baixa por conta de tanta desgraça, fiz o “mea culpa” e pedi perdão.
Depois fiquei sabendo que nenhum dos processos dele tinha se resolvido ainda, pois a Previ embargava sem parar, apenas o meu, o último escapou, porque haviam perdido um prazo de recurso e foram obrigados a pagar.
Nunca me esquecerei deste dia.
Reformei minha casa e moro nela até hoje. Vendi o “caco” e comprei um que andava. Meu filho menor ganhou roupas novas e parou de usar sobras dos primos e tive o prazer de levá-lo para conhecer o Beto Carrero, mas o principal foi pagar minha dívida com o INSS e poder requerer a revisão do meu benefício, que chegou até um valor razoável para dar uma vida melhor aos que há tanto tempo me acompanhavam calados numa jornada tão penosa.


Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)
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terça-feira, 13 de julho de 2010

PANQUECA

Marcos, eu fui um dos funcionários que inaugurou a Classe I (lembra delas?) de Barra do Ribeiro (RS) em 1982.
Antes disso funcionava como Pavan de Guaíba e eu já estava lá desde esta época. O Pavan fechava ao meio-dia e saiamos para almoçar num ou noutro lugar da pequena cidade, que não tinha mais do que três ou quatro lugares disponíveis.
Tínhamos um colega, companheiro para tudo e um verdadeiro amigaço, sempre preocupado com a hora do almoço. Para falar sem rodeios comia como um condenado.
Um dia, quando chegava ao banco pela manhã, um sujeito me abordou dizendo que estava abrindo um pequeno restaurante de comida caseira e gostaria que o pessoal fosse lá conhecer.
Informei aos demais e na hora do almoço fomos conferir.
Éramos quatro e o homem serviu com muito boa vontade os novos clientes, ainda mais no dia da inauguração.
Como prato principal colocou sobre a mesa uma travessa cheia de panquecas. Creio que tinha umas 30 ou 40 e nosso amigo “comilão” não perdeu tempo. Devorou quase tudo, claro, para espanto do proprietário, que vendo o sucesso do “prato especial” ficou feliz da vida.
No outro dia e nos dias seguintes, o homem como já tinha falado comigo da primeira vez, me tomou como amigo e parava na porta lá pelas 10 h da manhã e lascava bem alto: “Ô seu Ary, vamos lá hoje? Vai ter panqueca”.
Pronto, foi o que bastou, até hoje os ex-colegas me conhecem por “Ary Panqueca”, peguei a fama, não comi nenhuma e nem gosto de panqueca.

Ary Taunay Filho – Guaíba (RS)
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segunda-feira, 12 de julho de 2010

BANG - BANG

Não me lembro exatamente o ano, pois guardar datas e nomes nunca foram o meu forte. Mas, seguramente, o fato ocorreu no princípio da década de 1960, porque havia pouco tempo que chegara a Morrinhos(GO), vindo de Belo Horizonte.

Cheguei exatamente no dia 30 de Setembro de 1959, quando (esta data eu não me esqueço), em 1º de outubro, tomei posse como funcionário do Banco do Brasil.

Àquele tempo o Banco funcionava no prédio que pertencia ao saudoso Sr. Felício Chaves, localizado na esquina da Rua Rio Grande do Sul com a Av. Senador Hermenegildo de Morais. Era um prédio acanhado para comportar a agência do Banco, àquela altura já com 3 ou 4 anos de funcionamento e que contava já com uns 40 funcionários, sendo que a grande maioria provinha de vários estados do país, principalmente de São Paulo e de Minas Gerais.

À época, para os habitantes das grandes metrópoles brasileiras, o Estado de Goiás era tido como terra de índios e jagunços, onde imperava a lei dos valentes e do “38”. Trabalhar aqui, principalmente no interior, era como que participar de aventuras “Hollyoodianas”, com índios, bandidos e mocinhos. Entretanto, o “diabo” não era assim tão feio quanto se pintava; a realidade era bem outra.

Chegando em Morrinhos percebi que seu povo era formado por pessoas de bem, gente hospitaleira, honesta, trabalhadora, educada, ordeira e respeitadora da lei. Havia, é lógico, de vez em quando, um crime ou outro, como ainda os há, aqui, ali, em qualquer lugar. Lá fora, muito mais do que aqui. Não era como diziam os amigos e conhecidos, de Belo Horizonte, com as barbaridades e atrocidades que apregoavam:

- Você vai para Goiás? Fique sabendo que lá, quando você escapa dos índios, não escapa dos bandidos! Se não gostam de sua cara, te dão um tiro e apostam para ver de que lado você vai cair!

Um absurdo! Nunca vi qualquer índio ou bandido. Era tudo folclore do tempo em que ainda se procurava ouro e pedras preciosas.

Mas (existe sempre um porém), não é que, um belo dia, bem dentro de nossa agência, acontece uma destas tragédias que, não fora trágica, seria cômica.

Tínhamos, como sempre, grande movimento de clientes, principalmente de agropecuaristas a procura de financiamentos, já que aquela era a agência mais perto de uma grande região e Morrinhos uma das principais cidades da região sul do estado. Àquele dia, porém, no meio da semana, felizmente o banco estava com pouca movimentação.

Repentinamente, pelo meio do expediente, adentrou pela porta principal um homem empunhando um revólver, olhando para todos os lados, procurando alguém. Ao avistar o infeliz, que estava perto dos caixas, descarregou nele sua arma, prostrando-o ao chão.

Foi aquele alvoroço! No tumulto que se formou só se via gente correndo para todo lado. Os funcionários se escondiam debaixo das mesas e dos balcões. Alguém notou que uma bala perdida havia atingido o vidro de um dos caixas (eram dois). E cadê os caixas? Sumiram os dois!

Um deles, o Guilherme, um paulista descendente de alemães, um homenzarrão alto, forte, corado, desses que, pela alvura de sua pele chegava a ser vermelho (uma garotinha dissera que ele era “cor de rosa”), foi encontrado bem encolhidinho em baixo do balcão do caixa, branco como cera. O outro, o Figueredo, sumira de dentro da gaiola (que era o caixa antigamente) não se sabe como. O colega Evaldo, dizem as más línguas, mal conseguindo balbuciar algumas palavras, entrou engatinhando na sala do Gerente, quase se agarrando às suas pernas.

Os poucos clientes que se encontravam na agência se esparramaram, procurando sair dali de qualquer jeito. Eu, por minha vez, “bobo da cidade grande”, como estava um pouco distante dos acontecimentos, ao contrário dos outros, procurei chegar mais perto para ver o que tinha acontecido.

A cena foi tão imprevista e repentina, armou-se tanta confusão que, quando todos se deram conta do acontecido, a infeliz vítima esvaía-se em sangue no chão, talvez já morto, sem que ninguém ousasse se aproximar para prestar-lhe o devido socorro.

Enquanto isto, o criminoso, tranqüilamente, saiu do banco, montou em seu cavalo que estava à porta e foi-se embora. Nunca fiquei sabendo se fora preso ou não!



Hilton de Aquino - 4.208.280-3 - Caldas Novas(GO) - e-mail: hiltaquino@hotmail.com

sábado, 10 de julho de 2010

PERDI A COMISSÃO NO POKER

Lá no início da década de 90 minha agência estava abrindo vários Cavans, aqueles caixas avançados e o negócio gerava quilômetro rodado, meia diária e uma comissão de caixa executivo.
Eu estava concorrendo com outro colega para assumir a vaga de caixa num desses postos e ainda com o direito de viajar no meu próprio carro.
Todas as segundas e quintas-feiras o “clube do bolinha” da agência se reunia na AABB e a “picanha” corria solta na base do racha entre amigos.
Depois do churrasco alguns ficavam na mesa de sinuca e outros formavam uma roda de poker e a coisa se estendia até altas horas. O jogo era barato, mais para diversão, mas as vezes o negócio esquentava.
Numa noite dessas, poucos dias antes da escolha do “caixa executivo” do Cavan, recebemos a visita do Gerente Adjunto e ele optou pelo divertimento do “carteado” após o jantar.
Ocorre que o homem, gente finíssima, realmente um amigão dos funcionários, era meio chegado num “destilado”, mais precisamente um Natu Nóbilis e entre uma parada e outra mandava o litro com uma voracidade incrível, enquanto perdia incontrolavelmente no jogo.
Lá pelas 2h da madrugada restavam na mesa 5 jogadores, entre eles nosso adjunto, eu e o colega que concorria comigo à comissão do Cavan.
Dadas as cartas, meu jogo não servia e saí fora, assim como os demais, restando “meu concorrente” e nosso adjunto, mais vermelho do que um peru de tanto “Natu”.
O “meu concorrente” fez uma aposta baixa, mas nosso adjunto achou pouco e disse: “Vem cá guri, vamos aumentar esse negócio porque isto aqui é jogo de homem”, e puxou o talão de cheques dizendo “Diz até onde tu vai, que não sou de correr da briga”. Claro, “meu concorrente” ficou meio assustado, afinal era o chefe, mas de brincadeira disse: “Eu vou até o “SEU” VP”, e não é que o homem aceitou? Virou as cartas para mim e eu vi aquele jogo espetacular: Um “street flash” de espadas, completinho, do dez ao Ás.
Eu suei frio e fiquei louco para fazer um sinal para o meu amigo para que não topasse a parada, afinal o nosso adjunto já era E-12 e a paulada seria feia. Mas claro, se o “chefe” notasse eu estaria frito.
Cheques feitos e sobre a mesa, nosso adjunto encheu o peito e lascou: “Isto é para vocês aprenderem como se joga poker” e abriu as cartas sobre a mesa, enquanto já ia passando a mão nas fichas e nos cheques.
Aí o meu amigo, que aparentava uma tranqüilidade incomum para quem apostara um VP E-12 disse: “É POUCO”, a abriu um Royal Street Flash, lindo, lindo. Eu nunca tinha visto, tudo de ouros, do 10 ao Ás.
Marcos, nosso adjunto quase teve um infarto. Levantou e perdeu a compostura. “Seu guri isto, seu guri aquilo e mais um monte de impropérios”.
Embarcou no carro e lá se foi “cantando pneu”.
No outro dia o clima na agência ficou meio estranho. O homem, tão falante a brincalhão com o pessoal estava mudo e assim ficou por uns dias.
Numa manhã ele chamou “meu concorrente” e disse: “pega tuas coisas, teu carro e vai para o Cavan, a vaga é tua. Ah, e me desculpe aquelas bobagens daquela noite”.
Pronto, perdi uma comissão por conta de um carteado.
Pode?

Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)
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quarta-feira, 7 de julho de 2010

ESTRATÉGIA SALVADORA

Aluízio Nicácio Cavalcanti





Feliciano de Medeiros Barbosa, funcionário do Banco do Brasil, em João Pessoa, marcou época com suas tiradas impagáveis, onde a irreverência e a sátira inteligente estavam, invariavelmente, presentes. Mesmo atingidos por suas espiritualíssimas brincadeiras, os colegas sempre o estimaram, rememorando, vez por outra, essas jocosas situações por ele criadas.

Do seu tempo no Banco, são: David Trindade, Adroaldo Gomes da Silva, Ayrton Lins Falcão, Antônio João Maribondo Vinagre, Arlindo Agra, Arnóbio de Alencar Assumpção, Carlos Coelho de Alverga Neto, Edísio Souto, Francisco Olívio de Souza Filho, Geraldo Teixeira de Carvalho, Ivanilton Martins Dinoá, Joás de Brito Pereira (seu cunhado), José do Patrocínio de Oliverira Lima, José Rodrigues de Lemos, Juarez da Silva Guedes, Luiz Hugo Guimarães, Ramon Dantas Maciel, Robson Maul de Andrade, entre muitos outros, inclusive o "locutor que vos fala".

Certa vez, quando presidente da AABB local, viajou Feliciano ao Rio de Janeiro, a trato de interesse do clube. Lá, foi hóspede de Luiz Carlos Florentino, seu colega de banco e amigo fraterno, que à época fazia um curso de pós-graduação na Cidade Maravilhosa.

Luiz Carlos prontificou-se a apresentar o nosso Feliciano ao diretor do Banco do Brasil, seu amigo, a cuja diretoria estava afeto o assunto da AABB que o levara ao Rio.

Agendada a visita ao diretor, saíram ao seu encontro e, coincidentemente, depararam-se com o homem logo no elevador do prédio onde estavam. Feita a apresentação, Feliciano apressou-se em explicar, ali mesmo, o motivo da sua viagem, que era o pleito para obter uma verba a ser aplicada na reforma da AABB em João Pessoa. O Diretor, sem mais delongas, decidiu na hora, para surpresa geral: "Pode voltar, se quiser, que a verba está concedida".

Resolvido, inesperadamente, o problema, Feliciano convidou Luiz Carlos para comemorar o feito e decidiram ficar por perto, ali mesmo em Copacabana, num bar próximo ao prédio onde estavam. A comemoração iniciou-se pelas 11 horas da manhã e, com a chegada de outros amigos e conterrâneos, foi-se estendendo até que, por volta das três da tarde, Luis Carlos, prudentemente, convidou Feliciano para encerrar a farra e voltar para o apartamento, lembrando-lhe que as esposas estariam ansiosas esperando-os e que já passara, e muito, da hora do almoço.

Feliciano então retrucou: "Olha, Cal, (como ele chamava Luiz Carlos), já que passamos da hora do almoço, não devemos ir agora, porque elas estarão furiosas, nos esperando; você conhece a Bispa (tratamento carinhoso que ele dedicava a sua esposa). Vá por mim. Vamos demorar mais um pouco e, lá para as seis da tarde chegaremos. Aí você vai ver que, ao invés de furiosas, elas estarão preocupadíssimas e a nossa chegada servirá de motivo para alegria e não para a bronca que agora nos espera".

Assim foi feito e a estratégia funcionou magnificamente. Chegaram por volta da meia noite e encontraram as famílias reunidas com mais alguns vizinhos do apartamento, todos de mãos dadas, irmanados em fervorosa oração. À entrada triunfal dos "desaparecidos" a alegria foi geral e, entre abraços, risos e lágrimas, foi organizada mais uma rodada de orações, como agradecimento pela graça alcançada; agora com a participação dos trânsfugas. O bafo de cerveja substituía, com vantagem, o incenso.




Aluízio Nicácio Cavalcanti - 0.584.480-0
nicaciocavalcanti@uol.com.br

terça-feira, 29 de junho de 2010

Colorado doente!

Tomei posse na cidade gaúcha de Ibirubá em 1977, bem na época do escândalo do "adubo papel".

De cara me colocaram para "bater contrato" no Setop Rural, coisa que fazia com o maior orgulho, ainda no tempo da gravata obrigatória.
Um colega em especial, filho de agricultores, pessoa muito simples e trabalhando na mesma tarefa, conversava sempre sobre sua paixão pelo Internacional, inclusive por eu ser de Porto Alegre, estava sempre fazendo perguntas, pois não se convencia de como era na verdade o Estádio Beira Rio.
Havia outro colega que tinha assinatura do jornal Zero Hora, que diariamente trazia as notícias do estado e principalmente as novidades sobre a dupla Gre-Nal, mas o dono do jornal tinha um problema, porque todo dia na hora do lanche o "colorado doente" ia para a cozinha primeiro e na volta "roubava" o jornal, impedindo que seu legítimo dono desfrutasse das novidades.
Aí resolvemos aprontar uma.
Um ano antes o Grêmio ficara marcado pela passagem do jogador Oberdan, que vindo do Santos FC, fez história nos gramados gaúchos.
Conseguimos um jornal velho, da época da estréia do Oberdan e substituimos a parte dos esportes do jornal do dia.
Não deu outra, o "colorado doente" pegou seu lanche apressadamente e passou a mão no jornal. Sentou-se à sua mesa e exclamou com espanto: "Pessoal, olha só, o Oberdan tá voltando. Vai jogar domingo!"

A gargalhada foi geral e esta foi a última vez que "roubou" o jornal!

Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)
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Atenção Senhores Fumageiros

A recém inaugurada agência de Barra do Ribeiro(RS), tempo da Classe I, visava atender o orizicultores e fumageiros.
Logo que iniciamos as atividades éramos apenas cinco funcionários, mas logo chegou mais um, prontamente colocado no atendimento da Rural.
O sujeito era meio estranho, defensor ferrenho do meio ambiente e com umas idéias meio malucas a respeito de tudo, mas como a agência era muito pequena e com carência de pessoal deixa estar.
No primeiro dia de coleta de propostas para o plantio de fumo, o dito cujo lá estava pronto para a tarefa.
Fila imensa na rua e o agência abarrotada.
Eis que nosso "ambientalista" cola um cartaz na parede: "Senhores Fumageiros, vocês estão plantando a desgraça do Brasil".
Bem, o gerente ficou numa satisfação incrível!

Ary Taunay Filho - Guaíba(RS)

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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Passeio na capital por conta do lucro!

Tomei posse no final de 1982 numa agência do sertão do Ceará, bem na divisa com a Paraíba. Éramos 26 novos funcionários provenientes em sua maioria de Fortaleza. Grande parte, jovens inexperientes em seu primeiro emprego que vieram desafogar a agência, na época trabalhando com uma quantidade imensa de adidos das mais diferentes localidades do país.

Os funcionários antigos já vinham armando um trote para cima dos calouros. Naquela época, nós recebíamos uma antecipação de um salário para ser pago em 25 prestações mensais sem juros. Junto com a documentação de posse que assinamos veio embutido um cheque avulso com a papelada da abertura da conta. Felizes da vida por estarmos tomando posse e sem conhecermos o famoso cheque avulso, assinamos em branco conforme nos foi solicitado. Só tomamos conhecimento para que serviria o tal documento (cheque avulso), quando no final do dia fomos ao caixa retirar nosso salário antecipado. Estava faltando uma parte dele. Tínhamos o recibo fornecido pelo SEFUN e o saldo era menor. Depois de pedir orientação aos nossos chefes fomos informados de que nós tínhamos doado parte dos proventos para a realização de uma festa na AABB local, comemorativa da nossa posse. Alguns até concordaram prontamente, como foi o meu caso, mas outros ficaram a se lamentar. Essa foi a primeira malandragem que aprontaram para os novatos. Dizem que cachorro que é mordido por cobra tem medo de lingüiça e depois dessa ficamos mais espertos, ou melhor, pensávamos que tínhamos aprendido a lição.

O final do ano vinha se aproximando e com ele a expectativa do lucro da agência. Perto do dia 31.12 eis que surge no quadro de avisos da agência uma convocação assinada pelo Gerente e Gerente Adjunto convidando possíveis voluntários que se encarregariam de levar o lucro da agência para Fortaleza com diárias e folgas. O alvoroço entre os novatos foi grande. Todos queriam fazer essa viagem não só pelo dinheiro, mas pelo fato de matar as saudades dos familiares. O comunicado dizia que seriam escolhidos apenas 03 funcionários. Todos os novatos se submeteram a uma entrevista na gerência para a escolha dos felizardos. Saíamos da entrevista confiantes e aguardando a tomada de decisão do gerente.

Passamos alguns dias numa cruel expectativa esperando sermos agraciados com a tal viagem. Chega o tão esperado dia para a divulgação dos eleitos. No dia 31 o resultado estava no quadro de avisos. Os três escolhidos não cabiam em si de tanta alegria e os outros preteridos se lamentando da falta de sorte.

Terminado o expediente do dia 31.12, já bem tarde, pois tudo era feito sem ajuda de computadores, a agência comemorava seu lucro obtido no ano. A viagem seria na manhã do dia 02 de janeiro.

Na manhã do dia 02 de janeiro a festa estava pronta na entrada dos fundos da agência. Os três colegas com o sorriso de orelha a orelha, engravatados, posando para o fotógrafo junto com um malote pesadíssimo. Canta-se o hino nacional e tudo. Nisso chega o carro de praça que levaria os três com o lucro para Fortaleza. Os outros novatos só se lamentando da falta de sorte. Os três escolhidos quase não dando conta de levantar o malote embarcam no carro e iniciam a viagem. Entramos na agência para o primeiro dia útil de trabalho. Não demora 10 minutos e o motorista retorna com os três alegando que faltava um documento comprovando o teor da remessa. Todos foram para a porta da agência, inclusive o fotógrafo. O gerente alega que o lacre do malote estava violado e que poderia ter sumido dinheiro. Foi um Deus nos acuda. Os colegas responsáveis pela guarda do malote durante a viagem ficam aterrorizados. O gerente pede para abrir o malote ali mesmo na rua.

Quando o malote é aberto o desespero dos três se mistura com as gargalhadas dos veteranos. O malote estava recheado de pedra e areia. Foi aí que os três se deram conta que tinham caído noutra cilada dos funcionários antigos. Nessa hora eu agradeci por não ter sido um dos escolhidos. O pior de tudo foi ter essas fotos estampadas no quadro de avisos da agência por um bom período. A gozação não ficou restrita ao ambiente da agência.

Que saudades eu tenho do BB que conheci como uma mãe e se tornou uma madrasta a partir do dia primeiro de janeiro de 1990.



Gilvan Rebouças,

Matr. 5.529.063-9

domingo, 20 de junho de 2010

Complacência Mineira

Isa Musa de Noronha

A hospitalidade mineira é uma tradição que supera os limites da complacência ou, quem sabe? Supera as raias da paciência. Esta é uma história real. Os nomes foram cuidadosamente camuflados para, mineiramente, não ferir susceptibilidades.

xxx

Entre desconfiado e aborrecido, o janota chegou à cidadezinha para tomar posse como Gerente do Banco do Brasil na agência local. Eram três horas de uma tarde de janeiro, por volta de 1957, e o sol tornava as ruas poeirentas insuportáveis. Chegando ao Banco, apresentou-se ao pessoal sendo cercado das boas-vindas gerais: tapinhas nas costas, cafezinho e a pergunta:

- Já arrumou acomodação?

- Não procurei ainda. Sabe como é. Vim ver se alguém me indica qualquer coisa para alugar e só depois vou trazer a família.

- Ah, faz o seguinte. Vamos lá para casa, descansar, tomar um bom banho, pegar uma bóia da vovó e depois o Gerente se arranja!



A casa da avó não era só “a casa da avó”. Tinha a esposa do solícito colega, a tia velha entrevada, quatro filhos, duas empregadas daquelas que ficam no emprego quarenta anos, um cão vadio, um papagaio bobagento, três canarinhos chapinha e um sabiá-laranjeira. Uma grande casa, dessas que não se vê mais. Alta no pé direito, janelas compridas, gelosia, alpendre com o tradicional banco de madeira, típico de estações ferroviárias, passadeira cobrindo a tábua corrida larga, cheirando a cera. Na sala, o relógio de carrilhão, de quina na parede, o piano antigo, poltrona cômoda junto ao rádio que ocupa lugar de destaque. O corredor comprido, quartos lado a lado e o de banho, com banheira de louça azul. O Gerente tomou banho. A toalha quentinha, passada a ferro de brasas para amaciar, o sabão cheiroso, na banheira a água na temperatura certa. De chinelos e roupão desceu para sala, entrou pela cozinha destampando panelas...

- Ah! Um franguinho ensopado! Quanto tempo não como uma coisa assim tão cheirosa, tão apetitosa!

- Sinhô gosta? Pois é. É do quintal mesmo. Criamos o infeliz desde pinto e só com milho e pasto!

Janta vai e vem conversa, cafezinho para boca de pito, noite vindo e o Gerente não se mexe na cadeira. A mãe bota os filhos para dormir, a tia velha se escora sem esconder bocejo e a avó disfarça. Sai de fininho para arrumar a cama de hóspede.

- É... Acho mesmo que o melhor é a gente ir dormir. Hoje nosso Gerente se ajeita por aqui mesmo. A casa é modesta, mas decente. Amanhã é outro dia.

- Estou mesmo com sono. Esta comidinha boa e este sossego e lua do interior me deram uma lombeira do cão.

Lá pelas dez da manhã nosso sossegado hóspede aparece para o café. Biscoito frito, brevidades, broa de milho, leite da roça.

- Tenho aqui umas camisas, uma calça precisando lavar. Será que a senhora pode pedir para Dona Maria?


- Não se incomode! O senhor deixe em cima da cama que nós providenciamos tudo!

O Gerente saiu à rua e só voltou lá pelo meio-dia. Suado, batendo a poeira do sapato ao degrau da casa.

- Eta calor danado!

- Vá se lavar que já agorinha pomos a bóia.

E assim foi. Dia a dia, mês de janeiro correu, fevereiro foi de galope e só em abril chega a família. O Gerente foi esperar na estação e às cinco da tarde aparecia a composição na plataforma. Chegando em casa...

- Aqui estamos minha querida! Essa gente maravilhosa me deu todo apoio e pousada este tempo inteiro!

A avó teve que segurar-se à parede. Junto a uma mulher beirando os trinta anos entraram sete guris em escadinha de idade. O último à barra da saia da mãe. A esta altura da coisa não havia muito a fazer. O jeito foi tocar água no feijão, cortar mais uns tomates, aprontar mais couve, botar umas batatas no fogo. Eram tempos difíceis. Não que faltasse a comida. Mas, naquela época, naquele fundão de Minas, se não dependia do poder do dinheiro, dependia de ter o que se comprar. E quase não tinha. A criançada dava dó. Empoeirados da s horas passadas no trem e com os olhinhos arregalados de quem estranha tudo. A avó, de coração mole como suas pernas, nem pensou para dizer...

- Maria! Ferve a água. Vamos arrumar um banho para esta meninada!

A preta Maria sai resmungando... “pois sim. Oito banhos e quantas toalhas? Tanta água... Arre!” Banhos tomados, meninos de roupas trocadas, descem para o jantar. A avó e Maria na cozinha preparavam o tutu, cortavam ovos em rodelinhas caprichosas, picavam a lingüiça para render mais, arroz fumegando na panela de pedra, o lombo corado na frigideira e a preocupação...

- Meu Deus! Será que eles vão reparar?

Não repararam. Comeram tudinho com voracidade infantil. Agora, como acomodar toda aquela gente?

- Sinhô Gerente... (a avó começou devagarinho...) Não tem cabimento o senhor sair daqui umas horas dessas. Por hoje vocês se ajeitam por aqui mesmo e amanhã todos vamos conhecer a casa nova... Que tal?

- A bondade da senhora não tem igual. Já arrumei mesmo a casa. Sabe como é? Os móveis chegaram agora na estação. Até descarregar e entregar na casa, colocar tudo no lugar, leva tempo.

Nem foi no outro dia, nem mesmo naquela semana. Só dias depois nossa tranqüila família tomou o rumo de casa. Pobre avó. Muito longe de tecer lamúrias por tantos dias e tanto trabalho, cismava...

- Será que eles não repararam?

xxx

Caro amigo. Isto pode acontecer com você. Quando aparecer aqui em Minas e precisar de pousada, pode entrar. É só não reparar...

Isa Musa de Noronha

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Gente boa!

No início da década de 70, ganhei numa rifa de um clube, uma motoneta "Xispa", da marca Lambretta.
Por desorganização o clube não tinha nota fiscal, nem emplacado o prêmio, apenas me deram o prêmio, assim, sem nada de papel, nem recibo! Ficaram só com a cautela premiada!
Pois bem, fui à Delegacia, com a Lambreta, e contei o causo ao delegado que de pronto disse:
-Vamos emplacar prá ti! Vocs são gente boa do Banco do Brasil! Aqui em Santo Augusto (RS) quem manda é a Prefeitura, o Banco do Brasil e o Padre!
E assim foi. Emplacada sem papel algum, e tempos depois vendida e re-vendida até o final de sua vida útil!

Paulo Beno Goellner
matr. 8.062.970-9
aposentado BB Carazinho (RS)

sábado, 12 de junho de 2010

Velhas Máquinas

Isa Musa de Noronha



Em 1982 fui trabalhar na Administração do Edifício da Agência Centro Belo Horizonte. Lidava com móveis, utensílios, máquinas e até zelava pelos revólveres da vigilância. Sim. Houve um tempo em que os vigilantes eram do quadro próprio do BB. Logo no meu segundo dia aconteceu um acidente no Depósito de Móveis e Utensílios – o DMU. A agência havia substituído as velhas máquinas autenticadoras Burroughs pelas então modernas, autenticadoras Sharp. Aguardando ordem para a destinação do maquinário usado, essas foram colocadas em uma velha estante de aço, tão velhas (ou mais) do que as próprias máquinas. Quem as conheceu sabe: eram pesadíssimas. E não é que a estante veio abaixo e com elas todas as Burroughs? Pois coube a mim narrar o fato à Direção Geral, DEMAC e dar início à baixa no inventário da agênc ia. Muito serelepe e contrariando todas as normas da CIC COMUNICAÇÕES, fiz o comunicado em versos. Levei bronca da Gerência com direito a anotação restritiva em fé-de-ofício, mas recebi um memorando da vetusta Direção Geral elogiando a criatividade.

E foi assim que escrevi:

Ao
DEPARTAMENTO DE MATERIAL E SERVIÇOS GRÁFICOS – DEMAG
Divisão de Compras de Material – DICOM
Rio de Janeiro – RJ

Sr. Chefe,

E afinal a estante caiu.
Não suportou o peso
Tamanha sobrecarga
E veio ao chão
E com ela as máquinas.
Vinte e duas
Velhas aposentadas
Que autenticaram antes
Tantos papeizinhos tolos,
Míseros cruzeiros
Ou volumosas somas.
Pagaram auxílio funerário,
Converteram em espécie
Poucos dias de férias,
Abonos, PIS, PASEP
E o derradeiro FGTS.
A estante não poderia suportar.
Trazem as velhas autenticadoras
A dor comum de todos aqueles
Que no batel da vida
São afastados, empilhados,
Substituídos por outros,
Tão jovens – por isso tão leves.
Tão jovens – então melhores.
De quem é a culpa afinal?
Quem é o culpado
Do afastamento sumário,
Do expurgo primário,
Do exílio completo
De tudo que fica
Para o passado,
De todos aqueles que tanto
Serviram e hoje
Não servem mais?
Velhas máquinas de carne
Movidas a suor no trabalho,
Pago a preço bem pago
(mas não tanto)
Um dia seremos todos
Empilhados em qualquer
Estante de esquecimento.
Quem há de assegurar
Que não vão ruir também
Nossos sonhos
Esperanças
E planos?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

PC bom de bola

Boas relembranças sempre são bem vindas. Muitos jacobinenses ainda guardam em mente os “bábas” no Campinho “soçaite” da Associação Atlética Banco do Brasil-AABB de Jacobina (BA), nas décadas de 1970 a 1990, principalmente. Os “rachas” dispensavam comentários. Aliás, serviam de registros antes e depois daqueles eventos de final de semana. Concorridos além dos limites; aos sábados, duas horas antes da bola rolar, a lista - para três times - já excedia em muito. E no período de dezembro a março é que o “bicho pegava”, pois, funcionários que já haviam trabalhado na Agência do BB (Jacobina-BA), ou filhos da Terra que moravam em outras localidades e, naquela época, ali se encontravam de férias, engrossavam mais ainda a concorrência.
E não era só de “peladeiros” que enchia o clube: torcedores, freqüentadores, “biriteiros” e outros admiradores do esporte se amontoavam sob a sombra das grandes árvores que margeavam uma das laterais do campo e sob o efeito de boas goladas de “loirinhas” e “branquinhas” atiçavam os participantes.
Pois bem! Em 1982, era diretor esportivo do clube Amilton Vasconcelos. Também jogava, organizava, comentava, criticava e fazia enrola em campo como ninguém; catimbeiro igual não se conhecia. Se no desenrolar de um jogo-treino as coisas desandassem para o lado dele, era o bastante para se enervar; qualquer lance que ele considerasse desfavorável ao seu time, apanhava a bola, colocava debaixo do braço, partia para cima do juiz e debulhava todos os códigos esportivos perante aquele voluntário. Muito conhecedor de regras de futebol e por esse atributo ninguém se atrevia a argumentar com ele, muito menos a expulsá-lo de campo. Profundamente apaixonado por futebol, acompanhava – pela imprensa falada, escrita e televisada - todas as movimentações desse esporte. Sabia de todas as transações entre clubes; da ficha completa de qualquer jogador, estivesse esse no Brasil ou exterior. E, se não bastasse, em quase todas as suas comparações sempre aparecia uma bola, uma jogada desse ou daquele atleta. Aliás, nas suas redações, nem costumava pingar os “is”: fazia-lhes bolinhas ao invés dos gramaticais pontinhos ou pinguinhos.
Num daqueles sábados, tudo se repetiu como dantes: lista completa, times escolhidos, cara ou coroa para escolha dos lados do campo; torcida presente, etc.
No time de Miltinho, apelido de Amilton Vasconcelos, ficou Antônio Carlos, também conhecido por Paulo César, ou simplesmente PC. Assim carinhosamente chamado pelos colegas e amigos pelas suas semelhanças físicas - e somente físicas - a Paulo César (Caju) aquele mesmo que jogou no Flamengo, Botafogo, Seleção Brasileira, etc.
PC, recém empossado no Banco do Brasil, ainda calouro, obedecia a tudo e a todos. Se lhe mandassem buscar a ”máquina de procurar diferenças” em qualquer banco da concorrência, o novato funcionário não se fazia rogado; nem era preciso cuspir no chão, pois, célere como um raio, superaria todos os prazos ou tempos de espera.
Compondo o outro time ficou Edvaldo Oliveira, conhecido com muita intimidade por “Coelho”; filho da Terra – nascido no Povoado de Junco, no termo de Jacobina e, na ocasião, trabalhava no BB-Agência em Quirinópolis (GO); “peladeiro” inveterado. De férias em Jacobina, veio participar do costumeiro ritual esportivo; rever colegas, amigos e tomar uns “gorózinhos”. Oportunidade essa em que unia o útil ao agradável.
Tudo pronto para o semanal amistoso. Mas, antes do pontapé inicial Miltinho chama PC à parte e cochicha-lhe ao ouvido uma difícil missão técnico-tática:
-PC, você vai marcar “Coelho”; sua única função vai ser essa. Cole nele; não o deixe andar; para onde ele for você vai atrás. Não quero que você faça outra coisa em campo a não ser isso, entendeu?
PC mais do que concentrado ouviu as determinações do “professor”, e fez um sinal afirmativo com a cabeça. Nada mais.
A bola rolou e o ritmo de jogo era tão acelerado que parecia final de Copa do Mundo entre duas seleções bem rivais. Ninguém queria perder para não amargar o tempo de espera no time de fora.
O atleta Edvaldo (Coelho), a quem o Miltinho incumbiu PC de marcar, jogava no ataque e costumava fazer gols. Meio arisco e nos primeiros minutos dava canseira aos seus marcadores. Pior é que PC não tinha nada de intimidade com bola; não levava jeito para futebol, apenas gostava. Era aquele chamado de “atleta” de fim de semana; resultado era o que menos lhe interessava; dar umas carreirinhas atrás da bola, seguindo-se de uns mergulhos na piscina; uma cervejinha e completava sua programação semanal. Acredita-se que já nos primeiros minutos de jogo PC já se arrependera de ter aceitado a tal incumbência, mesmo assim, alheio aquele tipo de responsabilidade, naquela oportunidade, queria mesmo era se divertir. Até por que seu ego transbordava de alegria, não bastasse achar-se recém empossado no Banco do Brasil e também está pisando aquele lindo e macio gramado - naquela ocasião -, tão cobiçado pela massa desportiva da microrregião.
“Coelho” costumava correr pela direita em alta velocidade e quando apanhava a bola no meio do campo partia para cima de PC; cortava para direita, esquerda; entortava-lhe tudo: pescoço, coluna, pernas. Era um vexame para aquele defensor. O suor encharcava-lhe a camisa, o corpo todo. A falta de preparo físico deixava-lhe numa tremedeira só.
Em poucos minutos de jogo, o time de “Coelho” já despejava um rosário de gols sobre o time de Miltinho e a maioria dos lances mortais saíra pelo lado esquerdo, onde atuava PC. Era um massacre sem limites. Volta e meia Miltinho colocava as mãos na cintura; e mentalmente interrogava a si mesmo sobre o desastroso e adverso escore. Não estava acostumado a placares adversos, muito menos elásticos. Respirava fundo. Olhava discretamente para PC. Meneava negativamente a cabeça e não lhe achegava uma mudança tática ou técnica que evitasse ou minimizasse a tragédia que os seus olhos presenciavam. Odiava perder um “bába”; treino ou amistoso para ele valia ponto, como se jogo oficial fosse. Garra não lhe faltava, fosse ao começo ou final de partida. Atleta outrora refinado, e para ele, - pela experiência adquirida no Leader Esporte Clube e Selecionado Jacobinense de Futebol - aquilo era vergonhoso. A bagagem técnica e a vivência em grandes decisões esportivas não foram suficientes para livrá-lo daquela vexatória situação. Fora, de fato, traído pela sorte na escolha dos participantes. Quando viu aquele jovem franzino, canhoto, “batendo na bola” com aparente intimidade, mentalizou positivo. Puro engano. O tal atleta pregou-lhe uma caçoada. Tudo que previu - liquidar o time adversário nos primeiros minutos de jogo,ocorria contrariamente. E pior, não havia tempo para mais nada, agora era suportar a “caqueirada” de gols e se preparar para gozação no final.
Com tudo isso, a bola rolava sem cessar, e a certa altura do jogo, “Coelho” que gastava todo o “gás” no início do jogo, já se esquivava pelas laterais do campo em busca de um pouquinho de sombra e tentando fugir da “implacável marcação” do PC. Num dado momento, o atacante “Coelho” deu com o olho, na beira do campo, em um grande amigo que há muito não via. E mesmo com o jogo em andamento, foi apertar a mão do companheiro e lá se deteve por alguns segundos, até para respirar um pouco. E o PC na cola. Mas, como o jogo não parava por nada, o time de “Coelho” – infinitamente superior ao de Miltinho – continuava em sucessivos contra-ataques mortais; era um bate e rebate na área sem alívio. Miltinho desesperado procurava PC em todos os espaços do campo, mas não o encontrava. E pensava: já não bastava a goleada que o seu time estava sofrendo e, ainda assim, o seu jogador de “confiança” lhe deixara na mão e naquele instante desapareceu do jogo e do campo. Não se conteve, agarrou a bola com as mãos e segurou. Com o olhar muito rápido percorreu os quatro cantos e foi localizar PC, em pé, na lateral do campo, onde também se achava o “Coelho”.
Miltinho esbravejou:
-O que está fazendo aí, PC!?
Paulo César sem nenhuma hesitação e muito calmamente respondeu:
-Estou marcando o “Coelho”...
Miltinho mudou de cor. Se já estava preto de raiva, ficou pior ainda. Arregalou os olhos para cima do PC e contestou:
-Mas, a bola está em jogo, PC. Nosso time perde... e de muito...
E PC, com mais descontração, respondeu:
-Antes de começar o jogo, você disse que era para eu marcar o “Coelho”; que não desse espaço a ele; que para onde ele fosse eu o acompanhasse; não o perdesse de vista... Exatamente estou cumprindo as suas orientações técnicas. Ele veio falar com um seu amigo e eu estou colado com ele; quando ele voltar para o jogo, eu volto junto. Não foi isso que você me determinou?
Miltinho entalou; “cuspiu marimbondos”, tal a sua ira; sacudia a cabeça que nem boi enfezado; se até aquele momento não conseguiu entender a razão daquela maiúscula goleada, aquela atitude de PC mostrava-lhe o efeito da causa. Imaginava consigo mesmo: já que não tem intimidade com bola, por que não fica ligado nas brechas que lhe abrem os adversários. Miltinho, esperto como poucos, enxergava que exatamente naquela oportunidade em que o “Coelho” estava na beira do campo conversando com o amigo, era chegada a hora de partir para cima do time dele e, quem sabe, diminuir o placar. Assim ele pensava, mas o PC não estava nem um pouco sintonizado, queria apenas participar, ou simplesmente seguir à risca as orientações recebidas. Se ele, Miltinho, disse que era para colar no “Coelho”, não desse espaço, etc. Exatamente isso que estava fazendo. Nas instruções recebidas só constava apenas que era para marcar o “Coelho” e nada mais. Por isso estava seguindo à risca.
O calvário de Miltinho terminou com o apito final. Emburrado, passou de passagem para o chuveiro; não deu entrevistas; nem fez comentários. Molhou a cabeça, aportou numa mesa e se deliciou com uma cerveja gelada, – outra de suas paixões - para refletir sobre suas recomendações táticas. Por fim, chegou à conclusão que, de fato, se enganou ao exigir tanto de quem ainda não conhecia as “potencialidades”. Primeiro conhecer para depois pedir.
E mais esperto ficou para não contabilizar esses tipos de insucessos em sua vida desportiva.

Carlos PROCÓPIO Dias da Cruz
Jacobina-BA, 2003-08-02

terça-feira, 8 de junho de 2010

Eu sei que vou te amar

Um dia eu escevi minha "declaração de amor" ao BB. Vejam

Isa Musa de Noronha

Quando você pergunta qual é o maior banco do Brasil você já disse o nome dele. Pois foi esse o slogan que eu criei lá pelos idos 1970, quando ingressei no BB. Menina pobre do interior, em minha cidade só havia duas oportunidades de emprego: a velha RMV, ser ferroviária como meus avós, tias e meu pai ou ser professora. Eu caminhava lentamente para as duas opções. Amo a ferrovia. Para mim, até hoje é sinônimo de saudade e boas lembranças. Amo o Magistério! A oportunidade única de aprender enquanto se ensina. Mas, a vida cobrava saltos maiores e eis que me inscrevi no concurso para o Banco do Brasil. Até então, o BB sisudo, só permitia homens e a abertura para as mulheres foi um grande avanço para todas nós. E lá vou eu, de livro de matemática em punho estudar com um tio, velho funcionário do BB e cobra criada em contabilidade e rotinas bancárias. O dia da pro va foi uma angustia só. Suava frio. Na prova de datilografia meus dedos pareciam sofrer de artrose, mercê da emoção. Passei! Em casa foi uma festa só. Antigamente, meus amigos, os pais sonhavam que o filho fosse: médico, engenheiro ou funcionário do Banco do Brasil e ali estava eu! Funcionária do Banco do Brasil! Imaginem vocês que na agência onde tomei posse sequer existia um banheiro privativo para as mulheres. Éramos poucas e definitivamente o Banco não estava preparado para nós. Nossas roupas chamavam atenção destoando da indumentária padrão BB: calça social, camisa de manga comprida e gravata! E nós? Sem nada ainda previsto na CIC FUNCI, lá estávamos de vestido tubinho, sem mangas às vezes, ou blusa e saia godê, na altura dos joelhos. Um escândalo. Pior era a cara das esposas dos colegas... “Esse negócio de mulher o Banco não vai dar certo”, diziam algumas enciumadas. E nós nos pintávamos, passávamos perfume, usávamos brinc os, laços, pulseiras, todas coloridas, alegres, joviais e bem vestidas até que um dia... Não é que uma cautelosa esposa de gerente decidiu interferir na CIC e sugerir ao maridão que nós usássemos uniforme? Pois foi! Com menos de um mês lá estávamos todas nós de “terninho”, de tergal (quente como o quê), cinza chumbo, com uma blusa palha. Tenho ainda a foto! Viramos aquela coisa padrão... Sem adorno, sem agrado e logo éramos motivo de gozação. Alguns colegas mais engraçadinhos diziam que: quando nasce filha mulher, o pai pergunta: você quer ser bonita ou funcionária do Banco do Brasil? Felizmente a história do uniforme não durou muito, pois nem nos colégios tradicionais era mais obrigatório. Aos poucos, à meninada dos colégios foi permitido o uso de calças jeans e assim também no BB, cujo lema era: “Tradição que se moderniza”, a CIC liberou geral, desde que a roupa fosse decente. Com isso voltamos a ser figurinos apetitosos, muitas de nós arrumamos casamento com colega (dobrando o VP e a Licença prêmio), fossos amantes, fomos traídas, fomos cantadas, conquistadas e muitas de nós jamais tiveram outro “casamento”... Muitas de nós nos casamos com o BB: fizemos carreira, viramos gerente, supervisoras e até Superintendentes. Hoje são muitas as mulheres no Banco. Algumas até na Diretoria! E iremos mais longe, nos aguardem!

Isa Musa de Noronha - 30/09/2008 - 09:43